terça-feira, 18 de agosto de 2015

HQ do Dia | 1602: Witch Hunter Angela

1602 e Angela - Duas criações de Neil Gaiman juntas pela primeira vez em Guerras Secretas.

Quando o mestre Neil Gaiman foi sondado pelo então editor chefe da Marvel, Joe Quesada em meados de 2002 para desenvolver o projeto futuramente batizado de 1602 ele nunca poderia imaginar que uma de suas criações mais populares na Image Comics, a caçadora de demônios conhecida como Angela estaria envolvida neste universo em algum momento. Mas esta é a "magia" de Guerras Secretas (e dos advogados da Marvel) e seus improváveis tie ins: Em pleno ano de 2015 temos duas criações distintas do mesmo autor, em dois momentos e editoras diferentes misturadas em uma mesma história em quadrinhos.

Em 1602: Witch Hunter Angela a dupla Kieron Gillen e Marguerite Bennett (que já conversou com a nossa equipe e atualmente escreve o título Angela da Marvel) nos leva de volta ao universo "Elizabetano" da corte do Rei James criado por Gaiman. Com poucas referências à série original, aqui Angela e a adorável fanfarrona Serah pertencem ao clã de caçadoras de bruxas que trabalham duro para livrar os domínios do rei das pragas amaldiçoadas. Mas nem só de bruxas e criaturas infernais vivem as duas moças. Uma nova ameaça surge no reino de James, os chamados Faustianos são seres humanos que fizeram pactos com entidades arcanas obscuras em troca de poderes e são o novo alvo da perigosa caçada que se inicia na primeira edição de Witch Hunter.

Em termos de linguagem e formato, Gillen retorna a seu estilo "irônico / rebuscado" muito popularizado em sua passagem por Journey into Mystery também da Marvel que "contamina" totalmente sua co-autora. Então, se você for ler o material na língua original, prepare-se para diálogos levemente rebuscados, mas cheios do veneno típico do autor. A dupla de roteiristas divide o roteiro entre cenas, mas para o leitor a transição é quase que imperceptível. A estrutura de roteiro vai direto ao ponto e logo nas primeiras páginas já surpreende com uma revelação muito inesperada sobre um dos personagens mais importantes deste elenco de apoio. Daí para frente a dupla de protagonistas parte em sua jornada à caça dos tais Faustianos e os autores balanceiam muito bem o tom levemente sombrio e por vezes meio violento com doses de humor ácido e sutil tipicamente britânico. Bennett constrói uma ponte irretocável para o clímax e apresentação do antagonista na primeira edição e, apesar deste ser mais um daqueles tie ins que não tem quase que relação alguma com o conceito principal (excluindo as interjeições citando o "Deus Destino") de Guerras Secretas, é uma leitura fluida e bastante agradável. Vale destacar também as pontuais presenças e referências à autores da literatura anglo saxônica clássica como personagens vivos deste universo.

Assim como no título regular de Angela, a ilustradora Stephanie Hans alterna seus trabalhos com outro artista, desta vez a talentosa Marguerite Sauvage. E que combinação afortunada! O traço mais cartunesco (porém detalhista) de Hans nos introduz à história enquanto Sauvage que tem uma pegada visual mais épica lida com a parte da ação mística da segunda parte da história de maneira brilhante. Witch Hunter é visualmente impecável tanto no redesenho de seu elenco (a indumentária de Angela é digna de entrar na continuidade "normal" da editora) quanto na divisão de estilos no decorrer da história. Dois estilos diametralmente opostos de ilustração que se complementam perfeitamente.

1602: Witch Hunter trás o que temos de melhor no título mensal de Angela (o dualismo entre as duas protagonistas e os diálogos "espertinhos") para dentro de um universo épico fantasioso com a dose certa de humor ácido, misticismo e violência. Apesar do roteiro praticamente isolado do plano geral de Guerras Secretas, os roteiristas aproveitam uma linha temporal da Marvel que não está entre as preferidas dos leitores e criam uma história movimentada, divertida e com certo grau de imprevisibilidade. O roteiro é apresentado de maneira magnífica pela dupla de artistas com uma alternância brusca entre estilos que só beneficia a leitura. Para quem quer aproveitar a "pausa" na continuidade atual da Marvel e curtir um tie in agradável e bem feito Witch Hunter é uma boa pedida.

  


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