quinta-feira, 30 de abril de 2015

HQ do Dia | Avengers #44 & New Avengers #33 - Edições Finais

Resenha dupla: O fim dos Vingadores e de TODO o Universo Marvel. Última edição antes de Guerras Secretas.

Avengers e New Avengers desde que foram assumidas pelo escritor Jonathan Hickman no início da campanha Marvel Now! lá em 2012 se tornaram títulos complementares. No Brasil os títulos são coerentemente publicados (mais ou menos) juntos e enquanto em uma revista acompanhamos um lado de uma macro história na outra vemos repercussões e uma outra faceta do teatro organizado por Hickman.

Esta semana as duas publicações chegam ao seu fim culminando na esperada conclusão do arco Time Runs Out. Para quem não está acompanhando o Multiverso Marvel está lentamente entrando em colapso e se auto destruindo. Os Vingadores e o grupo de indivíduos conhecidos como Illuminati vem há bastante tempo tentando evitar este cataclisma e as revistas tem mostrado as repercussões das ações de um elenco numeroso de personagens em todo o Multiverso da editora.

A edição 33 de New Avengers nos mostra os esforços do Doutor Destino em salvar o Multiverso (Sim. Ele está tentando). Aqui somos finalmente apresentados às suas ferramentas, asseclas e motivações para tal intento e temos a prova definitiva que o colapso do Multiverso é um experimento organizado pelos seres conhecidos como Beyonders e não um mero evento aleatório. A conclusão do título foca principalmente em uma explanação de Destino ao Doutor Estranho e um confronto com os poderosos e misteriosos seres. O argumento de Hickman para esta edição apesar de repetir muita coisa que estamos lendo há alguns meses é envolvente e muito interessante. Somos apresentados a uma faceta totalmente inovadora do Homem Molecular e o escopo do "trabalho" de Victor Von Doom é imenso, épico e empolga qualquer fã de ficção científica. A forma como o autor apresenta o roteiro é complexa e exige um pouco do leitor, no entanto quem já está acostumado com o trabalho do roteirista não terá dificuldades. A conclusão do run no entanto deixa portas, janelas e armários abertos e uma quantidade enorme de pontas soltas que teoricamente serão resolvidas em Avengers 44 e no super evento Guerras Secretas, mas não vamos nos adiantar.

A arte de Deodato Jr. em New Avengers #33 é consistente, dinâmica, impactante e clássica na medida certa. Com um elenco reduzido e um roteiro com um veia cósmica acentuada o Brasileiro nos mostra como se desenha uma história de ficção super-heróica. O visual de Destino e do Homem-Molecular são os clássicos que você já não vê há algum tempo. Os closes mostrando as expressões faciais dos personagens já se tornaram uma especialidade do ilustrador e aqui temos um festival de expressões interessantes. Seja na loucura de Owen Reece, no espanto de Stephen Strange ou no olhar impiedoso de Victor Von Doom. O design dos Beyonder é alienígena e familiar ao mesmo tempo e a arquitetura de páginas e quadros é confortável e estranha dando peso ao roteiro de Hickman.

Em Avengers #44 Hickman começa com o pé no acelerador e logo de cara resolve o problema da invasão da armada Shiar a Terra. Em seguida o roteiro dá uma guinada e se volta para as horas finais do Multiverso Marvel. Só sobraram duas Terras ao final das incursões - O Universo 616 (que é o universo Marvel onde se passam a maioria de suas publicações) e o Universo 1610 (O Universo Ultimate) onde se encontram atualmente a Cabala - Grupo de destruidores cósmicos liderados por Thanos, o Titã louco. O autor mostra um pouco do que alguns dos protagonistas principais vem fazendo em suas últimas horas e os preparativos para o fim do Universo Marvel. A escala é imensa e o tom é desesperador. E essa é a parte divertida do roteiro - ver estes ícones impotentes e tomando medidas para escapar do Apocalipse. No entanto, o que finaliza esta edição é um confronto físico e ideológico entre o Capitão América e o Homem de Ferro. A intenção do autor claramente é aplicar o conceito "lados opostos da mesma moeda" nesse clima de fim do mundo. A conclusão é que temos um Capitão amargurado e um Homem de Ferro nada arrependido lutando, discutindo e se matando (algo que não é novo e já foi explorado algumas vezes). Hickman gasta algumas páginas neste conflito quando poderíamos dar uma repassada geral no Universo Marvel em suas horas finais aumentando a expectativa para Guerras Secretas. É uma edição nervosa e dramática assim como boa parte deste final de run, mas uma leitura bem menos complexa que New Avengers #33.
 
A arte em Avengers #44 é uma colaboração de Kev Walker e Stefano Caselli. Walker focando no quebra pau entre o Capitão e o Ferroso enquanto o Italiano se vira para mostrar o fim da Marvel. O fato é que os estilos de ambos não se complementam (eles colidem). O nível de detalhe imposto por Caselli em suas passagens é imenso e seu estilo limpo e visceral esmagam o traço mais simples e compacto de Walker. Não dá pra desmerecer o trabalho deste último, que é de fato muito caprichado, mas a presença e personalidade das passagens desenhadas pelo Italiano nesta edição ofuscam demais o trabalho de Walker e "encolhem" o conflito entre proposto por Hickman entre dois ícones da Marvel.     

Não há volta e não adianta justificar ou complementar o que já foi feito. Estas duas edições de Vingadores finalizam a passagem de Jonathan Hickman a frente da maior franquia de equipes de uma das maiores editoras de quadrinhos do planeta. Avaliando o contexto geral o roteirista teve 44 edições de Avengers e 33 edições de New Avengers pra apresentar um conceito teoricamente excelente e inovador, mas no final tropeçou em seus próprios delírios de grandeza. A quantidade de camadas complexas e ao mesmo tempo tão interessantes propostas para este elenco (e na verdade para todo o Multiverso Marvel) foi demais para o próprio criador. A criatura que estes títulos se tornaram ganhou vida própria e engoliu o roteirista deixando os leitores querendo explicações adicionais, mais histórias, mais foco e algum tipo de conclusão para o arco. Existem sim vários momentos memoráveis, repercussões definitivas e histórias excelentes durante toda a passagem do autor por esta franquia, mas a falta de foco aleijou a publicação aos poucos, alienou leitores mais tradicionais e criou uma legião de seguidores cegos que geralmente não admitem críticas construtivas. Enfim, aqui termina um lindo delírio, uma miragem que não se concretizou, uma promessa que não foi cumprida, um sonho delicioso... daqueles que te frustram ao acordar e perceber que era bom demais para se estabelecer como algo concreto.


quarta-feira, 29 de abril de 2015

HQ do dia | The Multiversity #2

Resumo: A saga multiversal de Grant Morrison chega ao seu final. Veja a resenha.

É o fim. Chegamos à nona e última parte da série multiversal escrita por Grant Morrison. Esta edição retorna à linha narrativa estabelecida na primeira parte do arco, encerra a saga e nos mostra o destino do último dos monitores do multiverso DC, Nix Uotan.

Apesar da grande quantidade de informação (muitos personagens em múltiplas versões, diversas Terras, um festival de referências à história da editora e toda a já característica metalinguagem que permeou a série como um todo) empacotada nesta edição de Multiversity se formos destilar a trama até seu âmago, teremos um roteiro bastante simples para a conclusão do evento. Aqui somos apresentados ao arriscado plano de Nix Uotan para salvar o Multiverso, a formação definitiva de uma equipe destinada exclusivamente a conter ameaças multiversais, vemos pistas da origem dos misteriosos seres (chamados "Gentry") que ameaçam a existência do Universo DC e finalmente entendemos como as benditas "revistas amaldiçoadas" se interligam e contribuem para restabelecer a ordem na chamada "Casa dos Heróis".

O roteiro de Morrison é bastante linear apesar da quantidade absurda de informação e dos diversos planos convergentes. A história é narrada através de voice boxes do protagonista principal que merecem (e na verdade necessitam) ser lidos com atenção para compreensão total do ideia do autor. Morrison utiliza a IA da Casa dos heróis, Harbinger como uma acertada ferramenta narrativa e âncora dos acontecimentos principais. Então, se porventura você se perder na leitura durante a batalha, ela está ali para te puxar de volta à trama. No final tudo se resume aos heróis descobrirem como combater a ameaça iminente ao Multiverso e unir esforços para tentar sanar esta crise (Sim. Eu disse Crise e quem ler a revista aqui vai entender a referência sem precisar de spoiler). A maneira como esta conclusão busca referências às outras partes da saga varia em termos de sutileza. Temos algumas conexões claras aos eventos mostrados em Thunderworld Adventures e Multiversity Guidebook e outras não tão explícitas às outras partes da saga, mas que estão ali. De qualquer forma esta edição interliga tudo que você já vinha lendo (e provavelmente amando) em Multiversity embrulhado em uma aventura recheada de ação pelos confins da DC Comics com um escopo gigantesco - ou seja, tudo aquilo que se pode esperar de um evento deste porte. Cada aparição de personagem, cena de combate, mudança de ambiente e até algumas falas são presentes do autor aos fãs mais hardcore da DC Comics, seria um puta injustiça portanto destacar esta ou aquela cena e estragar a surpresa e a diversão de quem lê o material. O que se pode dizer é que a participação do Corredor Escarlate é fundamental para a conclusão do evento e toda a mecânica da intervenção do personagem aqui nesta edição é arquitetada de maneira brilhante pelo roteirista, inovando e simultaneamente homenageando as inúmeras participações do velocista nas sagas multiversais da editora.


E a arte? Na verdade qualquer resenha de The Multiversity deveria ser iniciada com um parágrafo exaltando o trabalho do Brasileiro Ivan Reis. Esta edição é uma verdadeira "pedreira" para o ilustrador (e toda a equipe de arte) e o sujeito tira de letra. Imagine um roteiro mega-multiversal totalmente abstrato com 49 páginas escrito por Grant Morrison. Agora imagine este mesmo roteiro fazendo referência a oito histórias prévias totalmente surtadas com mais de 40 personagens super-heroicos com os designs mais variados lutando e se matando. Imaginou? O grau de dificuldade para o artista é altíssimo e Reis não decepciona. Isto aqui é tudo que se espera de um puta final épico de saga super-heroica clássica. Um exército de fantasiados desenhados da maneira mais bonita que se pode esperar em cenas que desde já se tornaram clássicos da editora. Não acredita? Então veja as passagens mostrando o Capitão Cenoura, a Aquawoman em ação, a Família Marvel os Gentry e a aparição espetacular do Super Demônio e diga se não são de tirar o fôlego. Reis pode se orgulhar de entregar a edição visualmente mais épica de toda a saga com esta conclusão. Isso tudo no meio de um plantel de artistas do mais alto nível. Uma verdadeira vitória em forma de arte em uma das edições mais complicadas de se trabalhar em toda a saga.    

The Multiversity #2 definitivamente não é uma HQ para detratores de Grant Morrison. Se você tem ressalvas quanto aos devaneios do roteirista fique longe disso (na verdade já deveria estar longe há algum tempo). Para os fãs de suas "morrisagens" isto é o presente definitivo. O autor consegue dosar sua loucura e metalinguagem até o limite da auto indulgência e entrega uma ótima história épica recheada com tudo aquilo que nos faz amar seu trabalho, mas sem a enrolação que por vezes lhe é característica. Esta edição fecha brilhantemente um evento inovador e clássico que celebra o que há de melhor no Multiverso DC e abre um novo leque de possibilidades para roteiristas que se aventurem a explorar o conceito.

Se você quiser saber mais sobre esta super saga da DC Comics leia as resenhas individuais de cada uma das partes de The Multiversity e divirta-se.

  

terça-feira, 28 de abril de 2015

Marvel | Editora revela a inciativa "8 meses depois" e planos após "Guerras Secretas"

Durante a Chicago Comic & Entertaiment Expo na semana passada em um café da manhã privado destinado somente aos varejistas donos de lojas de quadrinhos a Marvel fez uma pequena apresentação revelando prévias de páginas de Guerras Secretas do ilustrador Esad Ribic ainda não vistas, itens promocionais relacionados a saga e principalmente aquilo que todos os fãs esperavam: Os primeiros detalhes dos planos da editora após a saga Guerras Secretas.


Reportes de varejistas alegam que foi enfatizado durante a apresentação que título de Vingadoras Femininas, A-Force (escrito por G. Willow Wilson, Marguerite Bennett) liderará os títulos de equipes de super-heróis na Marvel após Guerras Secretas. Além disso foi revelado que o Esquadrão Sinistro será o novo Esquadrão Supremo do Universo Marvel. Personagens da saga Futuro Imperfeito (protagonizada pela versão Maestro do Hulk) serão integrados ao Universo Marvel assim como vários personagens da linha temporal 2099 da editora e alguns personagens da linha temporal 1892. Alguns outros títulos que farão parte da nova linha de quadrinhos da editora após a super saga serão AVX, WeirdWorld além do time de monstros nomeado Comandos Selvagens que é liderado pela viúva de Deadpool, a Rainha Shiklah.

Segundo as mesmas fontes de varejistas na semana que vem teremos um anúncio oficial da Marvel sobre seus planos após Guerras Secretas, mas a iniciativa já é apresentada como Eight Months Later (Oito meses depois) indicando talvez um novo salto temporal nos mesmos moldes da atual saga Time Runs Out no título dos Vingadores

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Demolidor | Leituras essenciais da Cozinha do Inferno

O Demolidor é um dos personagens mais queridos dos leitores de quadrinhos e figura entre os favoritos entre os fãs da Marvel. Advogado durante o dia e vigilante durante a noite, o jovem cego incorpora tudo que se espera de um super-herói urbano - força de vontade, habilidade, sagacidade, vulnerabilidade e principalmente humanidade.

Muito antes do universo da Cozinha do Inferno ser adaptado para o formato de seriado via Netflix já existiam diversas listas de "Melhores histórias" do Demolidor pela internet. Portanto mais uma é chover no molhado. O objetivo aqui então não é determinar e "lacrar" estas histórias como "A lista definitiva do Demolidor", mas sim dar dicas de leitura para quem conhece pouco ou quase nada do personagem e deseja entrar no universo do "Atrevido".

O Homem sem medo


Primeiramente vamos deixar uma coisa clara: Não há sagas que demonstrem melhor em essência o que é o Demolidor moderno do que as escritas por Frank Miller. É totalmente redundante escrever isso em pleno 2015, mas o autor redefiniu a persona de Matt Murdock e do universo do submundo criminoso da Cozinha do Inferno e da Marvel com obras como O homem sem medo.
A história da mini série é somente a origem definitiva do Demolidor moderno. A trama foi concebida por Miller e desenhada por John Romita Jr. e dá tratamento aos primórdios da carreira de Matt Murdock como vigilante assim como sua relação com Elektra e Stick - conceitos estes que foram introduzidos pelo próprio Miller em sua primeira passagem pelo personagem no início da década de 1980.

A Queda de Murdock


Mais uma redundância falar sobre esta obra, no entanto não dá pra entender o Demolidor e sua mitologia sem ler A Queda de Murdock. No clássico da arte sequencial moderna escrita também por Frank Miller em sua seguda passagem pelo título do Demolidor e nesta oportunidade desenhada pelo genial David Mazzucchelli a identidade secreta do defensor da Cozinha do Inferno cai nas mãos do gangster conhecido como Rei do Crime através da ex-secretária (e amor da vida de Matt) Karen Page. Karen, vivendo como uma atriz pornô viciada em heroína vende a identidade secreta do Demônio por uma dose da droga. O Rei então usa essa informação para destruir completamente a vida do Demolidor o que acarreta NO arco de queda e ascensão quintessencial na história da arte sequencial. Indispensável.

A Saga de Elektra


Fechando a "Santíssima Trindade" de histórias escritas por Frank Miller que redefiniram o Demolidor temos a sua estreia como roteirista de fato na HQ do Diabo. A saga de Elektra precedeu a Queda e Homem sem medo e marcou o início de uma nova fase na qual o Demolidor finalmente ganhou uma identidade como o herói urbano e humanizado que temos até hoje.
A assassina ninja foi criada por Miller no início de sua passagem pela HQ do herói e pontuou o título do Homem sem Medo com passagens marcantes na vida do personagem de 1981 a 1983. Nesse ínterim o autor criou e desenvolveu conceitos como o tentáculo, o passado amoroso de Matt e Elektra Natchios e redefiniu o Rei do Crime como o grande antagonista dos títulos do personagem. A morte de Elektra até hoje é um dos momentos antológicos dos quadrinhos da Marvel sendo reverenciada e lembrada por fãs até os dias atuais.

O Diabo da Guarda


História que marca a estreia do segundo volume do título do Demolidor. A revista começa esta nova fase sob a responsabilidade do autor Kevin Smith (Roteirista e diretor de Procura-se Amy, Barrados no Shopping, O Balconista entre outros clássicos) e com ilustrações de Joe Quesada. Na trama que explora o lado religioso de Matt Murdock o herói cego se vê às voltas como uma criança que pode ou não ser a encarnação do Anti-Cristo. Enquanto isso Karen Page descobre que é portadora do vírus HIV devido a seu passado como usuária de heroína e atriz pornô. O Demolidor novamente é levado ao limite de sua sanidade em uma saga que envolve o Doutor Estranho, a Viúva Negra, o Mercenário, o Homem-Aranha e até Mephisto. Alternando entre dilemas morais e ação desesperada, Diabo da guarda novamente alavancou as vendas e a popularidade do personagem no final da década de 1990 e preparou o terreno para a fase mais noir que veio a seguir nos títulos do herói cego.
  
Demolidor por Brian Michael Bendis



Após o enorme sucesso do arco Diabo da guarda o novo volume do título do Demolidor teve uma breve fase escrita por David Mack que culminou na entrada do roteirista Brian Michael Bendis e sua colaboração com o sensacional desenhista Alex Maleev. Durante a fase Bendis / Maleev tivemos arcos como Underboss que mostrou a queda do Rei do Crime por conta de uma traição, Out que conta a história exposição da identidade secreta do Demolidor ao público e as repercussões disso na vida de Matt Murdock e Hardcore que introduz a personagem Milla Donovan na vida do Demolidor enquanto o mesmo cai em uma armadilha orquestrada pelo Rei do Crime. A fase Bendis marca um dos períodos mais sombrios e interessantes do Demolidor com histórias sérias e recheadas de subtramas policiais / noir.

O Demônio interno e externo


Com o final da excelente fase escrita por Brian Michael Bendis a Marvel recruta o roteirista Ed Brubaker para assumir o título. A fase escrita por Brubaker e desenhada magistralmente por Michael Lark se inicia tratando as repercussões do final da fase Bendis. Com sua identidade exposta, preso na Ilha Ryker e cercado de inimigos o arco chamado The Devil, inside and out mostra uma das fases mais amargas da carreira do herói. Enquanto luta por sua sobrevivência no "xinlindró" o Diabo tem de tentar provar sua inocência e convencer o mundo de que não é o Demolidor em um ambiente totalmente hostil e desfavorável.

Demolidor por Mark Waid


Felizmente nem tudo é desgraça para o Demolidor. Esse é a premissa e o clima básico para o run atual de Mark Waid no título do Demolidor. A série que recomeçou da edição zero em 2011 e foi premiada com um prêmio Eisner é um dos quadrinhos mais interessantes publicados atualmente na Marvel. A abordagem de Waid para o personagem e sua reestruturação como advogado criminal é muito mais leve, mas não menos profunda e humana que seus antecessores. Waid escreve um Demolidor muito mais experiente e "malandro" e que usa suas habilidades e experiência na prática do direito criminal para ajudar a comunidade. Logicamente o herói se vê envolvido com vilões e tramas de conspiração que culminam em uma mudança radical na vida de Matt Mudock no final da primeira fase escrita por Mark Waid. Uma fase que difere diametralmente das passagens escritas por Brubaker e Bendis em tom e visual, mas que exploram de maneira brilhante as repercussões do material escrito pelos roteiristas predecessores. Um dos títulos mais divertidos da Marvel atualmente. Recentemente entrevistamos o desenhista do arco inicial dessa fase, Paolo Rivera e você pode ler um pouco sobre o trabalho do cara aqui.

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Este é o fim da nossa pequena lista de leituras recomendadas do Demolidor. Somente com este material você já terá dias e dias de diversão e pode conhecer muito da personalidade, mitologia e história de um dos personagens mais queridos e complexos da Marvel.
Logicamente cada um tem sua história favorita do Demolidor e é bem provável que a sua não esteja listada acima, mas deixe seu comentário abaixo e nos diga qual a sua história favorita do Atrevido.






sábado, 4 de abril de 2015

HQ do Dia | Kanan - O último Padawan #1

O último Padawan da Galáxia estreia sua HQ solo na Marvel.

O Universo de Star Wars voltou aos quadrinhos com força total neste início de 2015. Após o lançamento e (esperado) sucesso de três títulos inspirados na franquia de George Lucas (Star Wars, Darth Vader e Princesa Leia - Todos já resenhados aqui no Proibido Ler) a Marvel agora em Março se arrisca com uma quarta publicação estrelada por um personagem que pode parecer meio desconhecido para o grande público, mas é unanimidade entre os espectadores do Universo da série animada Star Wars Rebels - o último Padawan, Kanan Jarrus ou Caleb Dume.

Kanan para quem não está familiarizado é um dos poucos Jedis sobreviventes a infame Ordem 66
que extinguiu praticamente quase todos os Cavaleiros da Força da galáxia. O jovem teve de esconder suas habilidades para não ser exterminado e atua liderando um bando de rebeldes que começam a formar uma força de resistência contra o Império Galático.

Em O último Padawan o roteirista Greg Weisman nos mostra dois momentos diferentes das outras publicações do selo Star Wars da Marvel (Que transcorrem entre os Episódios IV e V da franquia cinematográfica). A história aqui se passa em dois momentos distintos: Primeiramente somos apresentados ao Kanan adulto com o qual os fãs de Rebels já estão habituados. Assim como na série esta passagem se passa poucos anos após o Episódio III - A Vingança dos Sith e antes do Episódio IV - Uma nova esperança. Aqui somos reapresentados brevemente a tripulação rebelde da nave Ghost e temos a premissa de uma missão de busca de suprimentos para a Aliança. Em um flashback que toma praticamente toda esta edição de estreia o autor nos mostra Kanan ainda como um Padawan chamado Caleb (seu nome de nascimento) em treinamento e sob a tutela da Mestre Jedi Depa Billaba durante as Guerras Clones que se passam durante todo o Episódio III. Ambos Jedi e Padawan, comandam um batalhão de clones em um distante planeta tentando restabelecer a ordem na Galáxia.

O roteiro de Weisman é Star Wars em essência. Temos muita ação, diálogos divertidos e com um quê de filosóficos (principalmente entre Mestre e Aprendiz) e uma reviravolta surpreendente, mas meio que já esperada no final (É isso que você está pensando sim). O principal atrativo de O último Padawan é mostrar partes e personagens do Universo de Star Wars que os fãs ainda não tiveram muito contato. Clones conversando, um planeta diferente e principalmente a Mestre Depa Billaba ganham o leitor nesta estreia. O protagonista principal é retratado com um jovem extremamente curioso em sua infância, mas muito disciplinado e habilidoso. A repercussão do final desta edição e a situação na qual o jovem Padawan é deixado no final da HQ catalisam a curiosidade do leitor em relação às edições seguintes.


A arte em Kanan é de Pepe Larraz e lembra um pouco o traço de Stuart Immonen misturado a Ed McGuiness. Ótimas caracterizações que não são foto realistas (pois logicamente não são inspiradas em atores reais aqui), cenas de batalha empolgantes e equipamentos e cenários fiéis à franquia cinematográfica. Larraz nos presenteia com páginas duplas lindas no auge das Guerras Clones nas quais dois Jedis e dois exércitos se chocam. O impressão visual da primeira edição é extremamente positiva e temos mais um título de Star Wars com tratamento gráfico de altíssimo nível na editora.

O último Padawan definitivamente não é um título voltado para fãs da série animada do Disney XD. Com esta edição a Marvel dá um recado claro aos fãs de Star Wars no qual se lê: "Estamos construindo um novo Universo Expandido". Felizmente o rumo desta publicação é muito interessante. Somos apresentados a um elenco diversificado com histórias que apesar de terem ainda pouca relação com o a história principal divertem e nos mostram partes da Galáxia que ainda não conhecemos. Kanan é um protagonista forte pois transita entre o Padawan e o Mestre Jedi e sua história vale a pena ser contada e lida.

  


sexta-feira, 3 de abril de 2015

HQ do Dia | Chrononauts #1

A viagem no tempo segundo Mark Millar.

Viagem no tempo é um dos temas mais manjados da ficção científica e da cultura pop. A ideia já foi usada, reciclada e abusada diversas vezes principalmente no formato de quadrinhos que oferece muito pouca limitação para seus autores. É só o cara imaginar uma história e ter um ilustrador minimamente competente e o céu é o limite.

Neste último mês de Março chegou às bancas americanas pela Image Comics a primeira edição de Chrononauts obra do aclamado roteirista Mark Millar (Guerra Civil, Kick Ass, Kingsman - O serviço secreto) em colaboração com o artista Sean Gordon Murphy (Punk Rock Jesus, O Despertar, Vampiro Americano). A revista basicamente conta a história de dois amigos cientistas Corbin Quinn e Danny Reilly tentando ser os pioneiros na viagem no tempo. 


Millar trata o tema usando uma analogia à corrida espacial. No universo de Chrononauts a viagem no tempo é um evento científico e cultural altamente significativo com acompanhamento intenso da mídia e com direito a coletivas de imprensa e transmissão ao vivo da primeira viagem. Chrononauts também é uma história de "bromance". Quinn e Reilly tem uma relação de amizade muito próxima e a "broderagem" entre os dois acaba sendo o catalisador desta aventura.

O roteiro de Millar é extremamente simples. A história não tem nada demais e o foco acaba sendo nos dois protagonistas que ganham a audiência logo em suas primeiras aparições. A explicação para o aparato temporal é mínima e instantaneamente compreensível. O autor não perde uma página sequer detalhando fundamentos de sua versão de viagem no tempo. O foco aqui é a jornada que a viagem no tempo proporciona e não o modo como ela opera. Os diálogos em roteiros de Millar aqui mantém a tradição de carregar o roteiro mesmo que você não perceba. O autor insere sutilmente uma motivação aqui e ali enquanto você está apreciando outra coisa na cena. A primeira edição termina com um cliffhanger típico do roteirista, no qual as coisas dão muito errado para os protagonistas e isso nos dá mais do que motivo pra pegar uma segunda edição.

A arte de Sean Murphy em Chrononauts segue na mesma toada de seu trabalho em O Despertar. O rústico e o detalhado se misturam com perfeição na revista. Observe os equipamentos e objetos de cena e o cuidado com a caracterização dos elementos históricos. Isso contrasta drasticamente com o design dos personagens que é intencionalmente bem despojado, estilizado e pouco detalhado. Murphy mistura esses dois estilos com perfeição em todas as páginas, muitas vezes até no mesmo quadro. O resultado é uma arte com estilo muito característico e diferente da maioria dos artistas do mercado atualmente. 

A primeira edição de Chrononauts nos apresenta uma aventura à moda antiga carregada por um roteiro extremamente batido com uma premissa das mais usadas em quadrinhos de ficção. Então por que eu deveria ler isso? Apesar de ser "feijão com arroz" a história é muito bem feita e conduzida em um ritmo que poucos conseguem fazer, os protagonistas são marcantes e te puxam pra dentro da HQ e a arte nos surpreende a cada virada de páginas. Ao final da primeira edição você não vai saber porque gostou de Chrononauts, mas vai querer ler a segunda edição. O fato é que Mark Millar é um exímio contador de histórias e nas mãos do cara até um tema desgastado em um roteiro básico se transforma em uma leitura interessante.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

HQ do Dia | Convergence #0

Toda a DC Comics de todos os tempos convergindo na nova saga da editora.

Enfim começou. Hoje foi dada a largada para evento DC Comics que promete trazer de volta todas as suas encarnações favoritas dos personagens da editora. A edição zero serve como um prelúdio para a saga de verão que paralisa a DC Comics por dois meses em sua cronologia e tem a missão de nos lembrar porque apesar de tudo amamos tanto estes personagens. Convergence é composta de uma mini série em oito partes com periodicidade semanal que conta a história principal e 40 tie ins com histórias em duas partes que substituirão suas mensais durante os meses de Abril e Maio deste ano.

Resumidamente (muito resumidamente pra falar a verdade) o que acontece em Convergence é: A consciência multiversal denominada Brainiac (que parece ser uma síntese de todas as versões já criadas do vilão) vem engarrafando "pedaços" de Terras de todo o Multiverso DC antes delas serem destruídas em linhas temporais como Pré-Crise, Pré-Flashpoint, Reino do Amanhã, Kamandi etc. Brainiac escolhe momentos específicos nos quais estas Terras estão prestes a serem descontinuadas e coleta essas amostras prendendo cidades inteiras em grandes domos. Estes domos são levados para a região no novo mapa do Multiverso DC (marcada com uma interrogação) fora do espaço e tempo. Neste lugar está o Planeta Tellos no qual são colocados estes domos para propósitos ainda não revelados. Tellos (que é um Planeta senciente encarregado de cuidar destes domos) sente que algo aconteceu com Brainiac (que saiu para capturar uma amostra da Terra-0 - onde se passam as histórias atuais da DC Comics - e não retornou) e resolve colocar o plano de seu mestre em ação da maneira que acha adequado. Os domos são removidos e as diversas Terras da DC Comics aprisionadas por mais ou menos 1 ano começam a interagir. E aí é que começa a festa.


Os roteiristas Jeff King e Dan Jurgens tem uma tarefa bastante complicada na edição zero que é mastigar um conceito relativamente complicado como esse acima e tornar esta Convergência algo digerível para uma audiência que não vem acompanhando os rumos do Universo DC atualmente. A escolha em focar este prelúdio somente no Superman e em sua relação com Brainiac é acertada. Seria um desastre apresentar o conceito como este usando muitos personagens e linhas temporais e isso arriscaria a compreensibilidade da saga logo de cara. Colocando o foco no Kryptoniano os roteiristas mantém tudo isso na perspectiva de quem está descobrindo o que está acontecendo. Além disso os autores aproveitam e celebram momentos marcantes da carreira do maior ícone da editora e talvez dos quadrinhos. No entanto há uma pequena falha no roteiro do prelúdio que sacrifica um pouco o leitor casual. A história contada aqui deriva diretamente dos eventos finais da saga Doomed apresentada há alguns meses em Action Comics. Doomed ao contrário de Futures End ou Worlds End foi uma saga que se restringiu aos títulos do Superman. Isso faz com que um leitor que não leu o final da saga fique um pouco perdido a princípio em relação a situação do Homem de aço ali. Essa relação próxima com a saga mostrada em Action Comics poderia ser sanada facilmente com uma página de recapitulação inicial, porém os autores se furtam da ideia e preferem inserir as informações que lhes convém nos diálogos de Convergence #0 o que novamente pode confundir um leitor casual. Entretanto no geral a primeira edição de Convergence apresenta uma premissa épica e grandiosa em uma escala ainda não vista após Flashpoint. E isso é o que todo leitor da DC Comics espera de uma grande saga multiversal. Os diálogos entre Brainiac e Superman e, em seguida entre Tellos e o último filho de Krypton são de extremo bom gosto. O roteiro, apesar das referências a acontecimentos em outras sagas é bem linear e os conceitos complicados são apresentados da melhor maneira possível. Se você for um leitor de quadrinhos de ficção habitual não terá dificuldade em entender o que se passa ali. Existem algumas referências totalmente deliciosas a outros eventos / realidades / linhas temporais já expostas nestas páginas. Você vai ver, ler e relembrar algumas coisas que provavelmente marcaram sua vida como leitor de quadrinhos da editora - seja uma versão específica de Brainiac ou alguma localidade do Universo DC que aparece de relance. E isso em uma saga lançada em pleno 2015 ainda tem seus atrativos.

A arte nesta primeira edição é de Ethan Van Sciver com colorização de Marcelo Maiolo e é simplesmente grandiosa. Apesar dos poucos personagens apresentados aqui o desenhista tem uma tarefa ingrata em passar para o papel ideias muito abstratas como as mostradas neste prelúdio. Nesta edição zero Van Sciver alterna entre páginas com poucos quadros e splash pages gigantes com paisagens surreais. Toda a arte nesta edição é extremamente abstrata, os cenários mudam entre quadros, os personagens aparecem em diferentes versões e apesar do artista ter a chance de exercitar bastante seus "músculos" criativos, poderia facilmente se perder no meio da salada que são os conceitos visuais na revista. Van Sciver consegue "vender" a ideia do roteiro de King e Jurgens através destas imagens e tornar algumas coisas que são subliminares bem compreensíveis pra quem lê. Em algumas páginas no entanto a arte final sofre um pouco desgaste. Alguns pequenos quadros tem um acabamento um pouco mais grosseiro em comparação às grandes páginas duplas e isso nos leva a perguntar se contratar um arte finalista separado para esta edição não seria uma opção melhor. A arte e o design deste roteiro é muito bem feita, mas existem sim algumas passagens que poderiam ser melhor finalizadas.

Convergence #0 é um prelúdio com acertos e erros. É certo introduzir uma saga como essa sob o ponto de vista de um protagonista meio "perdido" e usar um elenco pequeno para carregar esse piano. É extremamente acertado que o protagonista seja uma figura icônica como o Superman. Você pode não gostar do personagem, mas ele é instantaneamente reconhecível em qualquer uma de suas encarnações, fácil de entender suas motivações e poderes e participa de praticamente qualquer evento marcante na história da editora. Em uma saga que celebra estes eventos todos de uma vez, nada mais justo que usar o Homem de aço para introduzi-la. E é acertadíssimo pontuar a primeira edição com  referências e easter eggs da história da DC Comics. No entanto ao conectar esta edição diretamente com os eventos finais da saga Doomed os roteiristas arriscam alienar um pouco os leitores casuais que não estejam acompanhando Action Comics. A arte de Ethan Van Sciver é uma escolha incontestável para este prelúdio, todavia um arte finalista separado talvez pudesse incrementar ainda mais um trabalho gráfico do ilustrador que já é muito bem feito. Apesar desta edição ser basicamente um diálogo entre os personagens, Convergence trás uma mensagem muito forte logo em suas primeiras páginas e que realmente empolgam quem começa a ler a saga neste momento. Pode soar demagógico, mas quando alguém escreve: "Não importa o universo ou linha temporal. Todas demandam atenção" pode contar que haverá uma legião de leitores prontos para mergulhar nestas páginas.