Resenha dupla: O fim dos Vingadores e de TODO o Universo Marvel. Última edição antes de Guerras Secretas.
Avengers e New Avengers desde que foram assumidas pelo escritor Jonathan Hickman no início da campanha Marvel Now! lá em 2012 se tornaram títulos complementares. No Brasil os títulos são coerentemente publicados (mais ou menos) juntos e enquanto em uma revista acompanhamos um lado de uma macro história na outra vemos repercussões e uma outra faceta do teatro organizado por Hickman.
Esta semana as duas publicações chegam ao seu fim culminando na esperada conclusão do arco Time Runs Out. Para quem não está acompanhando o Multiverso Marvel está lentamente entrando em colapso e se auto destruindo. Os Vingadores e o grupo de indivíduos conhecidos como Illuminati vem há bastante tempo tentando evitar este cataclisma e as revistas tem mostrado as repercussões das ações de um elenco numeroso de personagens em todo o Multiverso da editora.

A arte de Deodato Jr. em New Avengers #33 é consistente, dinâmica, impactante e clássica na medida certa. Com um elenco reduzido e um roteiro com um veia cósmica acentuada o Brasileiro nos mostra como se desenha uma história de ficção super-heróica. O visual de Destino e do Homem-Molecular são os clássicos que você já não vê há algum tempo. Os closes mostrando as expressões faciais dos personagens já se tornaram uma especialidade do ilustrador e aqui temos um festival de expressões interessantes. Seja na loucura de Owen Reece, no espanto de Stephen Strange ou no olhar impiedoso de Victor Von Doom. O design dos Beyonder é alienígena e familiar ao mesmo tempo e a arquitetura de páginas e quadros é confortável e estranha dando peso ao roteiro de Hickman.
Em Avengers #44 Hickman começa com o pé no acelerador e logo de cara resolve o problema da invasão da armada Shiar a Terra. Em seguida o roteiro dá uma guinada e se volta para as horas finais do Multiverso Marvel. Só sobraram duas Terras ao final das incursões - O Universo 616 (que é o universo Marvel onde se passam a maioria de suas publicações) e o Universo 1610 (O Universo Ultimate) onde se encontram atualmente a Cabala - Grupo de destruidores cósmicos liderados por Thanos, o Titã louco. O autor mostra um pouco do que alguns dos protagonistas principais vem fazendo em suas últimas horas e os preparativos para o fim do Universo Marvel. A escala é imensa e o tom é desesperador. E essa é a parte divertida do roteiro - ver estes ícones impotentes e tomando medidas para escapar do Apocalipse. No entanto, o que finaliza esta edição é um confronto físico e ideológico entre o Capitão América e o Homem de Ferro. A intenção do autor claramente é aplicar o conceito "lados opostos da mesma moeda" nesse clima de fim do mundo. A conclusão é que temos um Capitão amargurado e um Homem de Ferro nada arrependido lutando, discutindo e se matando (algo que não é novo e já foi explorado algumas vezes). Hickman gasta algumas páginas neste conflito quando poderíamos dar uma repassada geral no Universo Marvel em suas horas finais aumentando a expectativa para Guerras Secretas. É uma edição nervosa e dramática assim como boa parte deste final de run, mas uma leitura bem menos complexa que New Avengers #33.
A arte em Avengers #44 é uma colaboração de Kev Walker e Stefano Caselli. Walker focando no quebra pau entre o Capitão e o Ferroso enquanto o Italiano se vira para mostrar o fim da Marvel. O fato é que os estilos de ambos não se complementam (eles colidem). O nível de detalhe imposto por Caselli em suas passagens é imenso e seu estilo limpo e visceral esmagam o traço mais simples e compacto de Walker. Não dá pra desmerecer o trabalho deste último, que é de fato muito caprichado, mas a presença e personalidade das passagens desenhadas pelo Italiano nesta edição ofuscam demais o trabalho de Walker e "encolhem" o conflito entre proposto por Hickman entre dois ícones da Marvel.
Não há volta e não adianta justificar ou complementar o que já foi feito. Estas duas edições de Vingadores finalizam a passagem de Jonathan Hickman a frente da maior franquia de equipes de uma das maiores editoras de quadrinhos do planeta. Avaliando o contexto geral o roteirista teve 44 edições de Avengers e 33 edições de New Avengers pra apresentar
um conceito teoricamente excelente e inovador, mas no final tropeçou em seus próprios delírios de grandeza. A quantidade de camadas complexas e ao mesmo tempo tão interessantes propostas para este elenco (e na verdade para todo o Multiverso Marvel) foi demais para o próprio criador. A criatura que estes títulos se tornaram ganhou vida própria e engoliu o roteirista deixando os leitores querendo explicações adicionais, mais histórias, mais foco e algum tipo de conclusão para o arco. Existem sim vários momentos memoráveis, repercussões definitivas e histórias excelentes durante toda a passagem do autor por esta franquia, mas a falta de foco aleijou a publicação aos poucos, alienou leitores mais tradicionais e criou uma legião de seguidores cegos que geralmente não admitem críticas construtivas. Enfim, aqui termina um lindo delírio, uma miragem que não se concretizou, uma promessa que não foi cumprida, um sonho delicioso... daqueles que te frustram ao acordar e perceber que era bom demais para se estabelecer como algo concreto.
Leia minha última resenha: HQ do Dia | The Multiversity #2 - Edição final