quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

HQ do Dia | Guerras Secretas #9

O início do novo multiverso Marvel no final de Guerras Secretas

Ah, as incursões... Quando a contração do multiverso Marvel começou lá em Janeiro de 2013 na estreia de Jonathan Hickman em "New Avengers", nós leitores não tínhamos a menor ideia do quanto este fenômeno impactaria as nossas publicações e personagens favoritos.

3 anos depois as incursões resultaram neste Mundo de Batalha e finalmente nestas "Guerras Secretas". Na última parte da saga que tornou Victor Von Doom o deus e soberano do único universo Marvel existente na continuidade atual (as demais histórias publicadas atualmente se passam 8 meses no futuro da editora em um novo contexto, entenda), Hickman nos apresenta a principal falha de Destino e o motivo de sua derrota. 

O roteiro desta última parte revela finalmente os planos dos 3 principais atores nesta peça: Primeiramente vemos Reed Richards do Ultiverso mostrando sua verdadeira natureza ao se deparar com todo o poder do Homem-Molecular. Em seguida vemos qual a função de T'Challa e a maior arma do universo Marvel nesta trama e no futuro de Wakanda. E finalmente o que estávamos todos esperando: O confronto final entre Reed Richards e Victor Von Doom. 

Sobre este embate final entre as mentes mais poderosas da Marvel cabe aqui um parágrafo exaltando principalmente a maneira sucinta e precisa que Hickman apresenta seus antagonistas. São 6 páginas de embate entre os dois, com diálogos relativamente curtos e frases que sintetizam a essência de sua histórica relação. As falhas de ambos protagonistas na resolução do problema das incursões são mostradas sem excesso de exposição. No fim, Destino é derrotado pela sua própria falta de confiança e amor próprio e sua obsessão e admiração por Richards fica clara em suas próprias palavras antes do fim do Mundo de Batalha. O combate pode ser visto como anti-climático por não haver um triunfo absoluto de uma força sobre outra, mas ao expor o Homem Molecular ao conflito e deixar este se dar conta do que realmente está acontecendo, Richards já demonstra porque é um dos personagens mais brilhantes do universo Marvel. 

Mas não é só isso, "Guerras Secretas" #9 é de fato o início do novo Multiverso Marvel (Sim! Nós temos um Multiverso novamente). Hickman novamente nos presenteia com um retorno ao início de sua passagem por "New Avengers" e revisita Wakanda de maneira satisfatória para os fãs da mitologia do Pantera Negra. Pequenas pistas sobre o futuro da Marvel são deixadas aqui e ali, e o mais gratificante é ver a construção deste novo multiverso pelas mãos de um sonhador, um gênio e um louco. A belíssima cena da nova criação do Multiverso contém ecos de todo o trabalho deste autor desde sua época no Quarteto Fantástico e na Fundação Futuro. Um presente para quem vem acompanhando o trabalho de Hickman há anos e um recomeço extremamente empolgante para este núcleo de personagens.

A arte de Esad Ribic nesta última parte mantém a consistência e exuberância que o ilustrador vem mostrando desde que "Guerras Secretas" #1 foi publicada no ano passado. No entanto, com cenários um pouco menos elaborados (por conta do roteiro) e um elenco um pouco menor, o desenhista nos entrega uma apresentação lindíssima, mas sem aquele impacto visual incrível que vimos na oitava edição. Aqui Ribic serve o roteiro de Hickman da melhor maneira possível e mostra porque nem sempre o visual deve sufocar a história. Temos uma apresentação impecável em todas as páginas (com destaque para o quadro mosaico mostrando o embate de Reed e Victor), mas sem auto indulgência visual.

"Guerras Secretas" sofreu com descrença desde o início: A saga tem o mesmo nome de uma das histórias mais queridas dos fãs da editora. Além disso é costume na Marvel nos últimos anos entupir o mercado de "mega sagas que vão mudar seu universo". Estas sagas de fato tiveram impacto, mas isto se deu através de histórias fracas com uma narrativa no geral bem pobre. Portanto quando a premissa do Mundo de Batalha foi apresentada e em seguida os planos de uma reformulação da Marvel foram revelados grande parte dos leitores torceu o nariz. Bom, o que podemos dizer é que em termos de roteiro e apresentação gráfica "Guerras Secretas" é uma das peças mais bem construídas e executadas por Jonathan Hickman e Esad Ribic nesta editora. Em seu âmago, as incursões, o Mundo de Batalha e os pontos de vista entre Destino e Richards são um reflexo de como nós leitores encaramos nossos títulos e personagens favoritos: Nós, assim como Destino temos receio do desapego. Somos escravos daquilo que nos conforta e faremos de tudo para manter as coisas do jeito que queremos que elas sejam. A proposta de Richards é a aceitação da expansão e da falta de controle sobre aquilo que amamos. Afinal, quem ama algo tem de deixar a coisa livre para crescer e gerar frutos. Esta é a proposta do autor para esta nova Marvel. Logicamente que tudo que é publicado na editora não vai seguir os moldes estabelecidos aqui nesta edição final. A nova Marvel já começa totalmente desorganizada e Hickman tem muito pouco a ver com isso. A falta de continuidade já se instalou na editora desde Outubro e se você tem algum problema com isso é melhor nem tentar acompanhar. De qualquer forma, para o bem, para o mal ou para o pior, poucos autores poderiam criar uma maneira mais bonita e satisfatória de se iniciar um novíssimo Multiverso como Hickman e Ribic fizeram aqui. Sejam bem vindos a nova Marvel 

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

HQ do Dia | A Lenda da Mulher Maravilha #1

A lenda das origens da Mulher Maravilha revisitada.

Apesar do título da Mulher Maravilha ter sofrido uma notável queda de qualidade desde que o casal Meredith e David Finch assumiram na edição número 36 de "Wonder Woman", (Confira a resenha aqui) Diana Prince está em alta. 

Com o imenso hype gerado pela presença da personagem no próximo filme inspirado nos quadrinhos da DC Comics "Batman versus Superman: A origem da justiça", era natural que a editora explorasse de maneira mais acentuada esta franquia. 

Portanto em Outubro de 2015 a DC Comics começou a publicar digitalmente em periodicidade semanal a série em 9 partes (anunciada a princípio) chamada "A Lenda da Mulher Maravilha". O título digital conta com argumento e arte de Renae de Liz e é finalizado, colorizado e letrado por seu marido Ray Dillon. De lá para cá a publicação digital fez tanto sucesso entre a comunidade de leitores que teve sua vida útil estendida (o gibi em formato digital já está na edição número 11) e esta semana a DC Comics começa a publicar finalmente em papel estas histórias através deste número 1 que compila as 3 primeiras partes da saga de origem da Amazona.

Sim. "A Lenda da Mulher Maravilha" é mais uma origem alternativa da personagem. Neste caso
particularmente retornamos ao barro de Themyscira de onde a origem mais popular da personagem se deu em suas primeiras décadas de existência. Renae de Liz entende que a proposta da Mulher Maravilha sempre foi o empoderamento feminino, portanto aqui temos uma jovem Diana mortal tendo que superar dificuldades de sua mortalidade sem ajuda dos deuses (assim como todos nós). Só este retorno a uma premissa mais humana e básica da personagem já cativa o leitor logo de cara. Mas não é só isso. Renae inicia esta história indo lá atrás e repassando de maneira simples, mas exuberante toda a mitologia por trás da Ilha de Themyscira e a relação da Rainha Hypolita com os deuses do Olimpo. A maneira como o pano de fundo do gibi é apresentado é classuda, épica e com aquela cara de conto de fadas antigo que não vemos em qualquer revista (principalmente na DC Comics) atualmente. O texto de Renae cai no limite entre o rebuscado e o texto de explanação que estamos acostumados normalmente e tudo aqui tem cara de épico. Desde as falas das personagens, até o fluxo de cenas. 

Diana é mostrada com cerca de 10 anos de idade. Aqui vemos uma menina já muito sensível e atenta às necessidades da comunidade que a cerca. Além disso temos os já clássicos conflitos entre a moça e sua mãe. Diana anseia por ser uma guerreira e irá seguir este caminho independente do que seja designado para ela pela Rainha Hypolita.

A arte de De Liz e Dillon nesta publicação é uma verdadeira doçura. Ver Diana Prince e as futuras "amazoninhas" crianças estudando em Themyscira aquece o coração de qualquer fã. Ao mesmo tempo o casal não escorrega nas cenas de ação fantásticas e na representação grandiosa das criaturas mitológicas e deuses que fazem parte deste contexto. Renae desenha com perfeição praticamente qualquer coisa que coloca em seu roteiro e a revista ganha demais com isso. O visual do gibi é muito claro e colorido e tudo aqui tem cara de conto de fadas infantil meio Disney, desde caracterização até as expressões e figurinos. Uma apresentação em geral em quadros bem largos e com bastante espaço para a bela fotografia da ilustradora. Consistência absoluta nas 3 primeiras partes do arco e um visual que combina perfeitamente com o tom da narrativa. 

O leitor mais tradicional provavelmente vai chegar com pé atrás quando se deparar com "A Lenda da Mulher Maravilha". A história, fora do contexto atual da personagem na continuidade DC Comics, vem recontar algo que quem conhece Diana Prince já está cansado de saber. O principal trunfo de da história de Renae de Liz é trazer a vulnerabilidade da personagem de volta nesta origem e aproximar a Amazona de seu público alvo. "A Lenda da Mulher Maravilha" é o primeiro passo de uma linda releitura de uma história de empoderamento feminino, escrita de forma classuda e ilustrada de maneira impecável por este casal de artistas.


HQ do Dia | Invincible Iron Man 1-5

Analisamos o novo Homem de Ferro da Nova Marvel em "Invincible Iron Man"

Desde a já clássica (e premiada) passagem de Matt Fraction e Salvador Larroca em 2007, que fortuitamente coincidiu com a explosão do universo cinematográfico da Marvel no cinema, o Homem de Ferro se estabeleceu como um dos baluartes da editora na cultura pop. 

De lá pra cá a popularidade do gênio, bilionário, filantropo vingador só aumentou. Isso se refletiu principalmente na atual proeminência de Tony Stark no universo de quadrinhos da empresa, ams também nas vendas e escalação de equipes criativas de seu gibi solo.

Pulamos para a tal "Nova e Diferente Marvel" e logicamente a revista do Homem de Ferro é um dos garotos propagandas dessa nova fase da editora após a saga "Guerras Secretas" (Entenda o que está acontecendo atualmente na Marvel aqui). "Invincible Iron Man" #1 foi publicada na primeira semana de lançamentos da nova linha da editora em Outubro. Agora em Janeiro, o aclamado roteirista Brian Michael Bendis e o ilustrador David Marquez concluem o seu primeiro arco de cinco edições que apresentam o Homem de Ferro novamente para os fãs e novos leitores.

As cinco primeiras edições de "Invincible Iron Man" mostram Tony Stark no período pós-Guerras Secretas da maneira em que nos acostumamos a ver o personagem em inícios de arcos: Se reinventando. Portanto na primeira edição Bendis desenvolve rapidamente a premissa da nova armadura que teoricamente pode se adaptar a praticamente qualquer situação que o personagem se encontre, mas mantendo um design limpo e funcional. Bendis também reintroduz a inteligência artificial feminina, Friday e dá a Tony um novo interesse romântico na forma da Biofísica, Dra. Amara Perera.


O primeiro arco tem uma pegada quase que investigativa pois mostra o Homem de Ferro unindo forças a um antigo e perigoso inimigo que parece estar regenerado. Os dois se juntam em uma caçada para impedir a Madame Máscara de pôr as mãos em itens sobrenaturais remanescentes do período Pré-Guerras Secretas que podem desbalancear o fluxo sobrenatural da Marvel em mãos erradas. Aqui Bendis explora de maneira satisfatória o conturbado relacionamento entre Stark e Giuletta Nefaria, sem cair muito naquele esquema de ex-namorada vilanesca. O roteiro destas cinco partes em si não tem nada de revolucionário. Já vimos o Homem de Ferro em situações semelhantes e até mais contundentes. O final também não surpreende nem um pouco e todo o estardalhaço da mídia especializada em relação à participação de Mary Jane Watson na publicação vai por água abaixo devido à minúscula (mas providencial) participação da moça nas duas últimas edições da história. O destaque do roteiro de Bendis (como é recorrente) são seus diálogos afiadíssimos. O escritor, apesar de se mostrar extremamente limitado em premissa e desenvolvimento do arco escreve peças de diálogos como poucos na indústria de quadrinhos atualmente. Isso fica evidente desde a primeira conversa entre Tony e a Dra. Perera e se estende por todas as edições. As peças de conversação em "Invincible Iron Man" carregam o gibi nas costas e o leitor acaba sendo seduzido a ler um história que francamente não tem nada demais por conta do talento de Bendis em construir boas cenas de bate papo em praticamente todas as situações mostradas.

David Marquez é um talentosíssimo ilustrador. Isso fica evidente analisando o portfólio do sujeito desde seus tempos de Miles Morales em "Ultimate Spider-Man". Em "Invincible Iron Man" Marquez dentro de seu estilo super limpo e sem hachuras estreia de maneira muito convincente. No entanto, provavelmente devido a prazos (as edições 1 e 2 foram publicadas com pouco mais de 2 semanas de intervalo) o trabalho de Marquez apresenta alguns tropeços em quadros pontuais neste arco inicial. O leitor pode notar em algumas passagens em praticamente todas as edições a partir da número 2 uma falta de detalhes eventual em quadros e cenários. Isso em momento algum vai atrapalhar o fluxo de leitura ou qualquer peça do roteiro de Bendis. Entretanto o contraste entre algumas páginas lindíssimas e outras que parecem meio "corridas" na mesma edição deve ser ressaltado. No geral, Marquez nos apresenta um trabalho gráfico com ótimo nível que certamente foi impactado por demandas editorias da Marvel em fechar este arco com rapidez.

O arco inicial de "Invincible Iron Man" se vende por conta da impressionante habilidade de Brian Michael Bendis em escrever peças de diálogos contundentes e divertidas e também devido ao entendimento do autor de Tony Stark. O personagem está inserido em uma trama extremamente manjada nesta primeira história, no entanto o roteirista entende tão bem como funciona a mente deste personagem e consegue transpor isso tudo de maneira tão convincente que acaba nos chamando para entrar neste universo. Com uma apresentação que varia entre o excelente e o satisfatório na mesma edição, este início de "Invincible Iron Man" na Marvel deve atender os fãs do Latinha, mesmo que não nos mostre nenhuma novidade em termos de quadrinhos de super herói.  


domingo, 10 de janeiro de 2016

Marvel | Um herói morrerá e novos detalhes sobre Guerra Civil 2

Capitã Marvel contra Homem de Ferro na parte 2 de Guerra Civil.

O sortudo jornalista Ethan Sack do Daily News recentemente participou como espectador do último retiro criativo de roteiristas de quadrinhos da Marvel.

O site portanto neste final de semana revelou com exclusividade os primeiros detalhes sobre o próximo evento no Universo Marvel chamado de "Guerras Secretas 2", escrito pelo veterano (e atual escriba do título principal do Homem de Ferro) Brian Michael Bendis e ilustrado por David Marquez (Que trabalhou já trabalhou com Bendis em "Ultimate Spider-Man", nos X-Men e atualmente desenha o título protagonizado por Tony Stark).

Segundo o editor chefe da Marvel, Axel Alonso a premissa de "Guerra Civil 2" gira em torno de um novo personagem no universo Marvel que tem a habilidade de prever com bastante precisão eventos futuros (Para os fãs de Chris Claremont nos X-Men: Não! Não é a Sina). Este impressionante poder divide a comunidade super heroica novamente. Enquanto o grupo liderado por Carol Danvers, a Capitã Marvel tem intenção de utilizar esta ferramenta de maneira preventiva e atuar nos responsáveis antes dos crimes serem cometidos, a facção liderada pelo Homem de Ferro é partidária de que a punição não pode vir antes do crime ser cometido. A história se desenvolve de maneira que um evento de proporções cataclísmicas é previsto para acontecer em três dias e a comunidade tem de tomar uma decisão difícil. 



Durante o retiro também foi definido qual super herói será sacrificado em "Guerras Secretas 2" e quem será o responsável pela morte. O corpo editorial da Marvel no entanto descartou logo de cara personagens como o Homem-Aranha e o Tocha Humana. Portanto fãs de Peter Parker e Johnny Storm fiquem tranquilizados.

Além dos já citados, o retiro contou com a presença de Joe Quesada, G. Willow Wilson, Sam Humphries, Nick Spencer, Tom Brevoort, Sana Amanat, James Robinson e o escritor da nova revista do Pantera Negra, Ta-Nehisi Coates.

Segundo Quesada os quadrinhos em 2016 refletirão muito do que acontecerá nos filmesda Marvel nos próximos quatro ou cinco anos. Portanto há uma tendência para a sinergia criativa entre as duas mídias da empresa.

A sequência do evento escrito por Mark Millar em 2007 tem estreia prevista para Junho de 2016 aproveitando a enorme campanha do lançamento do filme "Capitão America: Guerra Civil" em Maio deste ano.

sábado, 9 de janeiro de 2016

HQ do Dia | Star Wars - Vader Down - Saga Completa

Darth Vader na mira da aliança rebelde em "Vader Down" da Marvel.

A nova linha de quadrinhos do universo de Star Wars da Marvel é um sucesso inegável. No entanto a imensa popularidade da franquia somada à recente campanha gigantesca de marketing de promoção em virtude do recente lançamento do mais recente filme não valeria de nada para os leitores dos gibis se não houvesse uma consistência no material publicado.

Felizmente "Star Wars" e seus derivados em quadrinhos vão "muito bem, obrigado". Portanto nada mais natural que esta linha (que recentemente entrou na nossa lista de Melhores de 2015) tivesse seu primeiro evento lançado ainda no final do ano passado.

"Vader Down" é uma saga em seis partes que tem início na edição one shot "Vader Down #1" e se estende pelos números 13 e 14 das publicações "Darth Vader" e "Star Wars" alternadamente e culmina em seu clímax na edição número 15 de "Darth Vader" publicada agora em Janeiro de 2016.

O roteiro é uma colaboração entre a equipe de roteiristas regulares de "Star Wars" e "Darth Vader", Jason Aaron e Kieron Gillen enquanto a arte fica por conta dos artistas das mensais, o veteran Brasileiro Mike Deodato (com quem já conversamos) e Salvador Larroca.

Em "Vader Down" que (assim como grande parte da linha de publicações "Star Wars" atualmente) se passa no período entre os Episódios IV - Uma nova esperança e V - O império contra ataca, vemos um Darth Vader ciente de que o piloto que destruiu a primeira Estrela da Morte é na verdade seu filho, Luke Skywalker e obcecado com a ideia de encontrá-lo. Através de seus contatos com a Dra. Aphra, Vader, sem conhecimento do Império, descobre que Luke se encontra em busca de um antigo templo Jedi no planeta Vrogas Vas e parte para encontrá-lo. Chegando a Vrogas Vas, Vader descobre que o planeta na verdade é uma base secreta rebelde. Sem apoio do Império, o Lorde Sith tem de se virar para sobreviver e tentar encontrar seu filho. É lógico que a ilustre presença de Vader em um planeta cheio de rebeldes em rota de colisão com Luke Skywalker não passa despercebido pelo radar da aliança rebelde e rapidamente temos a cavalaria na forma da Princesa Leia, Han Solo e Chewbacca. E o circo está armado. 

No decorrer das seis partes de "Vader Down" descobrimos que o real objetivo da história de Jason Aaron e Kieron Gillen aqui é reafirmar a condição de casca-grossa de Vader. Aqui o leitor verá o velho Anakin Skywalker obliterando batalhões de tropas rebeldes como se fossem moscas. Em tramas paralelas vemos os confrontos entre Dra. Aphra, seus droides malignos e Han Solo, a emboscad a Skywalker, além de um "pega pra capar" violentíssimo entre Chewbacca e o aterrorizante caçador Wookie, Black Krrsantan.

O roteiro de Aaron e Gillen é extremamente linear em termos de tempo narrativo, mas muito movimentado e cheio de reviravoltas de poder a cada edição, principalmente em relação a Luke e os droides da Dra. Aphra. Os diálogos continuam excelentes, assim como nas edições anteriores de "Darth Vader" e "Star Wars". Vader é um adversário impiedoso e terrível tanto para com os rebeldes quanto para seus rivais no Império, no entanto quando se trata de Luke e Leia, a natureza do personagem retorna àquele molde de "vilão que promete mas não cumpre" pois por motivos óbvios ele não pode sair matando estes personagens logo de cara, né? 

"Vader Down" diverte bastante, mas acrescenta muito pouco de fato à mitologia da franquia. O carma de se trabalhar entre episódios de "Star Wars" acaba sendo estas amarras narrativas e o leitor percebe logo nas primeiras partes deste arco que não haverão grandes surpresas até o final da saga. Então se você espera alguma revelação chocante ou repercussão inusitada para o cânone, esqueça. Conceitualmente a história não tem este propósito e de fato nem precisa.  


As artes alternadas entre Deodato (que desenha em "Vader Down" e as edições de "Star Wars") e Larroca (trabalhando em "Darth Vader") continuam cumprindo com louvor o papel de transpor este universo com uma fidelidade exuberante para os gibis. Desde a caracterização de personagens, até os veículos e locações internas... Tudo aqui continua com aquela cara de "Star Wars". O talento dos ilustradores somado ao roteiro movimentadíssimo de Aaron e Gillen resulta em uma saga com um impacto visual incrível. Aqui vemos tudo que um fã de "Star Wars" que ler em um gibi da franquia: Começamos com as batalhas espaciais lindíssimas entre a aliança rebelde e o Tie Advanced X1 de Vader, que culmina em uma desastrosa aterrissagem na superfície de Vrogas Vas, seguido da aniquilação dos rebeldes e um confronto entre o Lorde Sith e um rival temido rival. Enquanto isso, em outra parte do planeta o pau quebra entre Luke, os droides assassinos da Dra. Aphra. O destaque gráfico no entanto vai para o violentíssimo confronto entre Chewie e Krrsantan - uma groseira luta entre dois personagens brutos, desenhada de maneira impressionante, tanto por Deodato quanto por Larroca.

Críticos podem argumentar que "Vader Down" como evento acrescenta praticamente nada à mitologia de "Star Wars". Isso é verdade, mas francamente não há nada de errado aqui. A premissa da saga é excelente e mostra Darth Vader em uma situação que nunca vimos antes - sob cerco. O desenvolvimento da história é feito de maneira tão natural, acelerada e sem exposição, que mesmo tendo seis edições, a saga passa na velocidade da luz pelos nossos olhos e realmente parece que ocorre nas poucas horas descritas no roteiro. Com participações marcantes de praticamente todo o elenco principal da franquia, diálogos extremamente fiéis e divertidos e arte de alto nível, "Vader Down" pode muito bem se tornar o próximo cartão de visitas de "Star Wars" na Marvel daqui para frente.
 

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

HQ do Dia | Saga Volume 2

O volume 2 da ópera espacial pornográfica de Vaughan e Staples chega ao Brasil.

Depois de quase que dois anos de um vácuo agoniante temperado com uma absoluta escassez de informação concreta, finalmente a editora Devir lança o segundo volume do encadernado do gibi mais premiado do mercado e quadrinhos Americano nos últimos cinco anos (Imagina se não fosse).

No final de Dezembro chegou às lojas especializadas "Saga Volume 2". A edição nacional encadernada é composta pelo mesmo conteúdo da compilação Americana da Image, contemplando as edições 7 a 12 de "Saga" do autor Brian K. Vaughan e da ilustradora Fiona Staples (Com quem nós conversamos na época do lançamento de Saga aqui no Brasil). 

Para quem não está familiarizado "Saga" é um a ópera pornográfica espacial focada na relação entre os personagens Marko e Alana - soldados de etnias e povos diferentes em lados opostos de uma guerra intergalática. Saga é contada através de relatos da filha do casal, a pequena Hazel, e mistura elementos de ficção científica, humor adulto e fantasia com perfeição.

No segundo volume de "Saga", Vaughan conta a história de como Marko e Alana  se conheceram, se apaixonaram e até como conceberam a jovem Hazel (Sim! É claro que tem putaria), além de apresentar a família do rapaz e alguns fantasmas de seu passado. Ao mesmo tempo em que nos dá o backstory do casal, Vaughan move a história através da perseguição aos dois tanto pelo mercenário The Will, quanto pelas forças de Landfal e velhos conhecidos de Marko da Lua Wreath. 

O roteiro neste segundo volume expande bastante as relações entre o elenco. Vaughan mostra muito da personalidade de Alana e os motivos pelos quais a moça abandonou a guerra para fugir com Marko, na forma do romance escrito pelo autor fictício D. Oswald Heist. Nas outras linhas narrativas começamos a ver um desenvolvimento de The Will além da simples função de antagonista e a introdução de novas caras dá uma carga energética enorme para mover a trama. 

Os diálogos de Vaughan continuam impecáveis, o ritmo de cada uma destas edições individualmente é cirurgicamente preciso para deixar o leitor emocionado, aflito, alegre e empolgado a cada gancho. Saga aqui mostra que nunca é o que você espera, sempre inovando em ambientação (Planetas nem sempre são o que parecem), estratégias de roteiro (a brilhante estratégia de resgate da Garota Escrava em Sextillion) e concepção e desenvolvimento de personagens. Saga está em um outro nível de roteiro, é uma leitura com fragrância própria e permanece diferente de qualquer outro título em quadrinhos publicado no momento.

A arte de Fiona Staples só evoluiu desde as primeiras seis edições de "Saga". Muito mais confortável com este elenco principal e livre para botar no papel (apesar de trabalhar quase que integralmente de maneira digital no gibi) as atrocidades de Vaughan, a moça mostra aqui porque é uma das desenhistas mais competentes dos quadrinhos na atualidade. Staples dá um show não só em fotografia, mas em concepção de quadros e ambientes, expressões corporais (incluindo lindas cenas de sexo) e faciais, fluxo de ação e principalmente no design do elenco. Saga tem os personagens com o visual mais impactante na Image Comics e tudo isso se deve à criatividade e ao talento de Staples na concepção destas maravilhas.

Apesar da distribuição péssima, a periodicidade caótica, a ausência de informação e o preço salgado vale muito a pena entrar no mundo de Saga. O título nos últimos tempos é um dos poucos que justifica o imenso hype que o cerca e a cada edição Brian K. Vaughan e Fiona Staples elevam ainda mais a barra nesta publicação. O segundo volume do título é uma leitura belíssima, comovente, empolgante e com aquele gostinho de "quero mais" que faz a gente voltar a banca e continuar lendo. Compre agora.    

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

HQ do Dia | A-Force #1

A equipe feminina de Vingadores da Marvel está de volta em "A-Force".

O tie in original "A-Force" publicado durante as "Guerras Secretas" não chegou a atender a imensa expectativa que foi depositada na nova franquia da heróis Marvel composta somente por personagens femininas. Na ocasião G.Willow Wilson e Jorge Molina tinham um elenco impressionante em suas mãos com relativa liberdade dentro do Mundo de Batalha para contar uma história em cinco partes. Infelizmente, apesar de ser uma boa história, o hype foi tão grande em relação ao tie in que nem mesmo a força da Mulher Hulk, Capitã Marvel e Medusa combinadas foram suficientes para entregar o que era esperado daquela equipe.

De qualquer maneira "A-Force" vendeu mais que crack na Central do Brasil e a Marvel logicamente já programou um gibi com a equipe feminina em seu novo e reformulado universo. E hoje finalmente temos a estreia de "A-Force", com a mesma equipe criativa do tie in de "Guerras Secretas".

Nesta primeira edição de "A-Force", Wilson centraliza a trama na misteriosa personagem Singularidade. Única remanescente consciente daquela parte do Mundo de Batalha (chamada "Arcadia"), Singularidade serve como personagem "ponto de vista", apresentando a ameaça em questão e parte do elenco de "A-Force". 

Apesar do elenco fodão, dos diálogos muito (muito) fofos, as caixas de texto contemplativas e as interações empolgantes entre as personagens, "A-Force" segue basicamente os mesmos moldes de praticamente todas as primeiras edições em gibis de super heróis em equipes: Uma ameaça poderosa e misteriosa surge. Nenhum destes personagens entende / consegue enfrentar esta ameaça sozinha. Elas meio que se unem por conta disso. E fica basicamente nisso aí. 

"A-Force" é uma leitura relâmpago. Não dá pra explicar muito bem o que Wilson faz neste roteiro, mas a revista passa na tua frente mais acelerada que criança em loja de videogame. Do espaço para a Terra rapidamente as 23 páginas parecem que são 8 e quando o leitor se dá conta estamos no cliffhanger final da estreia (que é meio óbvio diga-se de passagem). Um ótimo ritmo narrativo e diálogos excelentes, apesar da estrutura e premissas serem manjadíssimas.

A arte de Jorge Molina continua extremamente afiada. O homem nasceu para desenhar heroínas. Temos caracterizações belíssimas e distintas de todas as moças do elenco, dinâmica de páginas fluída e coerente, expressões corporais e faciais diferenciadas, isso tudo complementado pela excelente colorização de Laura Martin. O visual de "A-Force" é lindíssimo e transmite toda a sensibilidade do roteiro de Wilson de forma satisfatória.

Assim como aconteceu com o tie de "Guerras Secretas" a estreia de "A-Force" é encharcada de hype por conta do elenco adorável e a equipe criativa inegavelmente competente. No entanto nesta primeira edição, apesar de termos uma ótima leitura com uma arte de alto nível, não há nada que diferencie esta publicação de equipe de outras na Marvel exceto pelo seu elenco principal. "A-Force" está bem longe de ser uma estreia fraca, mas não surpreende nem um pouco e vai ter que lutar para garantir seu espaço no mercado daqui para frente.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

HQ do Dia | Art Ops

Arte literalmente ganha vida nas páginas de "Art Ops" da Vertigo.

"Art Ops" é a coisa mais esquisita publicada nesta nova leva de títulos do selo Vertigo no final de 2015. Isto é um elogio.

O gibi criado por Shaun Simon (co-autor de "The True Lives of the Fabulous Killjoys" com Gerard Way) e Michael Allred (de "Madman" e do belíssimo recente volume do Surfista Prateado) nos apresenta uma equipe de operativos especializada em proteger obras de arte. O diferencial e o que torna o título tão inusitado é que em "Art Ops" a arte é viva, ou seja, as obras mostradas são personagens. 

As primeiras 3 edições de "Art Ops" (que teve sua estreia em Outubro de 2015) mostram a equipe através de duas gerações de personagens: A pragmática e eficiente líder de operações, Regina Jones, que liderou o time durante sua época de ouro nas décadas de 1980 até os dias mais recentes e seu filho, Reggie Riot, um jovem sem rumo na vida que sofre com a negligência da mãe e se vê envolvido em seu trabalho após um acontecimento trágico. 

Simon apresenta Regina e Reggie como personagens intencionalmente opostos. Enquanto a mãe é extremamente séria, comprometida com sua função e trata todo o nonsense deste universo de maneira bastante objetiva, Reggie está pouco se fudendo, não tem intenção de se envolver com a atribuição que lhe designada e só quer ficar em paz. Grande parte da história se passa nos tempos atuais. O Art Ops está em frangalhos e isto é visto como uma oportunidade para antagonistas mal intencionados que pretendem tirar proveito da situação.

Alternando entre os dois núcleos narrativos em épocas diferentes, mas com o mesmo nível de esquisitice, Simon transforma este arco inicial em um barril de pólvora no melhor sentido da palavra. Tudo é balanceado através da figura chamada "The Body", um ex-personagem de quadrinhos que foi removido de seu gibi de origem por Regina para se tornar um operativo da organização e que agora tenta orientar Reggie em sua função de líder da equipe.

Pelo andar das primeiras edições sabemos mais ou menos como a trama vai se desenvolver no primeiro arco, e não há problema algum nisso. Shaun Simon mantém um ritmo de leitura muito bom com diálogos divertidos, certa dose de ação e uma porção de referências artísticas e à cultura pop em geral. Reggie é um personagem difícil de simpatizar, mas fácil de entender e o único problema real em sua história de "origem" é a utilização de um personagem querido como "escada" para suas motivações. Lógico que este artifício é usado em quase que todas as origens traumáticas de personagens em quadrinhos, mas aqui a "síndrome da geladeira" (pesquisar a origem de Kyle Rayner como Lanterna Verde) é gritante e descarada. Tanto que só ficamos sabendo o nome da pessoa usada como degrau após o evento traumático chave para a catarse de Reggie. No geral o roteiro de Art Ops com seu tom nitidamente hipster é sim extremamente divertido por causa do estranho e único universo criado por Shaun Simon e ilustrado pelos Allred...

Ah os Allred... Como não amar este casal? Se você pegar a primeira edição de "Art Ops" e não achar uma das coisas mais esquisitas e lindas da Vertigo em 2015 é bom você rever seus conceitos. Brincadeiras a parte, é sempre um deleite ver Michael criando personagens originais (ainda mais neste conceito absurdo proposto por Shaun), desenhando Nova York e finalizando tudo enquanto sua esposa Laura faz aquele trabalho vibrante e incrível de colorização. Fica evidente em "Art Ops" a qualidade e entrosamento da dupla de artistas à partir da segunda edição quando Michael é auxiliado nos desenhos por Matt Brundage. O traço aí torna-se um pouco mais sujo, os quadros um pouco mais poluídos e a caracterização nem sempre atende os padrões altíssimos da edição de estreia. Não é nada que impacte muito a leitura, mas há uma clara diferença entre o casal Allred trabalhando sozinho e os Allred trabalhando com Matt Brundage na arte.

"Art Ops" tem muito do espírito louco de "Madman" de Allred, mas em um contexto um pouco mais centrado e se passando em um universo que abre um zilhão de janelas de ótimas possibilidades narrativas. O roteiro de Shaun Simon é muito movimentado e apesar de Reggie Riot não ser um protagonista muito simpático à princípio, isto pode servir como uma jornada de crescimento muito interessante de acompanhar para este personagem. Fora a síndrome da geladeira, o roteiro é 100% divertido e envolvente e promete muita loucura nos números que virão. A arte, apesar de não ser de total responsabilidade do casal Allred atualmente é diferenciada, muito impactante, viva e tende a melhorar a medida em que o entrosamento entre Michael e Matt Brundage for sendo refinado. Vale a pena ler "Art Ops"? Mas é claro! Em qual outro gibi do mercado você vai ver a Monalisa cantando em uma banda de Punk Rock atualmente? Nenhum!


segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

HQ do Dia | Extraordinary X-Men

O futuro sombrio da raça mutante na nova Marvel em Extraodinary X-Men

Olha... Se tem alguém que se fudeu de azul e amarelo (vibrantes) nessa "Nova e Completamente diferente Marvel" foi a raça mutante. A coisa já não andava muito boa no período pré-Guerras Secretas: Conflitos temporais, guerras espaciais, testamento de charles xavier, colapso nervoso de seu líder revolucionário - Scott Summers e aquele bom e velho ódio anti-mutante que nunca dá trégua para os homo sapiens superior.

Na nova Marvel no entanto, além disso tudo de ruim, os mutantes são acometidos por uma outra praga na forma das névoas terrígenas liberadas na atmosfera do planeta durante a saga "Infinito" (Lembra não? Então leia a resenha aqui). O fato é que a mesma substância que deu vida a uma nova enxurrada de novos super-seres no Universo Marvel é extremamente nociva para os mutantes. Além disso, as repercussões de um misterioso ato terrorista perpetrado pelo já vilanizado Scott Summers aumentou ainda mais o sentimento anti-mutante em âmbito mundial.

E foi esse presentão que a Marvel entregou ao autor Jeff Lemire em seu primeiro gibi de equipe na Casa das Ideias: Uma equipe devastada e uma situação deprimente no mínimo. "Extraordinary X-Men" já está em sua quarta edição lá fora e assim podemos fazer uma avaliação mais criteriosa do trabalho do roteirista no principal título mutante da Marvel. 

Lemire em seu primeiro arco nos mostra os X-Men oito meses após o início deste novo universo Marvel (assim como todos os outros títulos da editora no momento). Ciclope fez alguma merda muito séria (de novo, né?) com os Inumanos e aparentemente morreu no processo queimando o filme da raça mutante de maneira épica. Atualmente na Marvel, um mutante não pode aparecer em público na rua sem ser hostilizado pela população e governos. Fora isso, todo mutante exposto à atmosfera terrestre sofre os efeitos degradantes das névoas terrígenas e está automaticamente estéril. Nesse contexto, Tempestade lidera o restante dos X-Men e com a ajuda de Illyana Rasputin, a Mágica tenta oferecer abrigo para todo e qualquer mutante em um lugar fora da Terra chamado X-Haven. 

As quatro primeiras edições mostram Tempestade, Homem de Gelo, Forge e Mágica tentando reunir forças e recrutar mutantes desgarrados como Jean Grey, Colossus, Noturno e o Velho Logan remanescente das Guerras Secretas. O roteiro se divide entre a situação em X-Haven que desanda logo de cara e o resgate e interação entre esses novos velhos membros dos X-Men. Este talvez seja o elenco super heroico mais povoado e diversificado que Jeff Lemire já trabalhou e o sujeito tira de letra. A situação dos mutantes é deprimente, mas roteiro do autor está muito longe disso. Aqui vemos os mutantes em uma situação extrema lutando para sobreviver e reunindo forças para se reerguer. Não há tempo para mimimi nem choradeira e Tempestade entende isso. Mesmo que isso esteja custando a sanidade da líder dos X-Men, Ororo é retratada como um exemplo de austeridade e o elenco disperso e cheio de sequelas recentes se complementa como em poucas fases dos mutantes na Marvel. Os X-Men funcionam no sofrimento, Lemire entende isso e usa estes limões para fazer uma saborosa limonada. Ogibi é permeado com diálogos curtos, objetivos e muito legais e a marca registrada do autor: Vozes distintas para cada um destes personagens. A revista ainda tem uma porção de lacunas, principalmente em relação a Ciclope, mas estas instigam e incentivam a leitura enquanto a história realmente caminha. Portanto você não vai se sentir enrolado como no run anterior de Uncanny X-Men.

O artista escalado para Extraordinary X-Men é Humberto Ramos. E como sempre em se tratando deste ilustrador, a apreciação depende muito do gosto pessoa do leitor. O traço híbrido com mangá remanescente do final década de 1990 ainda é predominante nos quadros de Ramos. Isso torna-se funcional e por vezes até bonito em cenas de diálogos, ou páginas com quadros amplos. O problema é que em cenas de ação e particularmente em cenas de ação em um gibi de X-Men o artista deve ser muito cuidadoso para não tornar as páginas initeligíveis. Ramos infelizmente nem sempre consegue transmitir claramente o que está acontecendo durante as lutas. Os poderes de alguns mutantes acabam parecendo um amontoado de rajadas disformes e sem direção (veja as cenas de ação com o Homem de Gelo ou Jean Grey por exemplo) e o excesso de gente em quadros pequenos deixa tudo com cara de improvisado. No geral existe uma inconsistência na arte em todas as edições até o momento, que varia entre o muito bom e o extremamente confuso.

Apesar da situação desesperadora na qual se encontram os mutantes, "Extraordianary X-Men" aparece com um raio de esperança para o retorno das boas histórias nesta franquia da Marvel. Jeff Lemire aborda a situação de forma objetiva e faz este elenco funcionar como há anos não se via. A arte de Humberto Ramos quebra um galho e até diverte quando não confunde a leitura. No geral o prognóstico para a raça mutante é horrendo, mas para suas histórias neste título é excelente. 


domingo, 3 de janeiro de 2016

HQ do Dia | Chewbacca - Saga Completa

O Wookie mais querido da Galáxia em uma aventura solo em "Chewbacca" da Marvel.

É uma época de renovação das esperanças para a aliança rebelde. Após a destruição da primeira Estrela da Morte, a revolução contra o Império Galático ganha força e organização e os pequenos conflitos pela galáxia começam a pipocar. Nesse contexto, um heroico piloto Wookie, embarca em uma missão muito pessoal, mas por uma falha mecânica em sua nave acaba fazendo uma aterrisagem forçada em um planeta chamado Andelm IV, fora dos limites conhecidos da Galáxia.

Essa é a premissa de "Chewbacca", mini série em cinco partes do selo Star Wars da Marvel, que teve início em Outubro de 2015 e terminou no final do ano. Aqui vemos o trabalho do roteirista de "Deadpool", Gerry Duggan e o artista da lindíssima "Viúva Negra", Phil Noto, contando uma história solo do Wookie mais querido da cultura pop liderando uma pequena revolução em um planeta escravizado após os eventos do Episódio IV - Uma nova esperança.

O roteiro de Duggan em "Chewbacca" é bastante simples e de fácil compreensão mesmo que você não esteja acompanhando o novo universo expandido de Star Wars da Marvel. Logo de cara somos apresentados à figuraça Zarro - uma menina escravizada por um gangster galático com planos de revolução. A menina, apesar de contracenar com um ícone, muitas vezes rouba a cena e poderia facilmente já fazer parte do elenco dos novos filmes da franquia. Duggan acerta em cheio no tom e voz desta personagem e cria uma dinâmica ainda não vista entre o Wookie e outro personagem humano na mitologia da franquia. Zarro e Chewie juntos são adoráveis e ecoam algo de "Frankenstein Jr." e outros moldes de histórias entre personagens jovens e criaturas monstruosas e adoráveis. Poucos personagens na franquia Star Wars são tão simpáticos quanto Chewbacca e fica muito difícil não sorrir ao ver o Wookie em uma aventura ajudando uma brava e resoluta mocinha a salvar seu planeta.

Duggan pontua sutilmente esta "Chewbacca" com pequenas referências ao passado do protagonista bem posicionadas nos acontecimentos da história. As cenas estão longe de formar um backstory completo do Wookie, mas o leitor entende as motivações do personagem ao ajudar a jovem Zarro e simultaneamente o autor consegue expandir a personalidade de Chewie se valendo de muito pouca exposição.

Uma sacada interessante na forma de apresentação dos diálogos no gibi é que quase que a totalidade do elenco do gibi não compreende o dialeto Wookie. Desta maneira os personagens entendem o amontoado de rosnados e ganidos de Chewie da mesma forma que nós - através das atitudes e expressões corporais do personagem. Duggan faz essa inteligibilidade e deficiência de comunicação entre seus protagonistas funcionar a seu favor e os diálogos se tornam muito divertidos justamente por conta desses "problemas" intencionais. 

Phil Noto é um mestre em sensibilidade visual e a escolha do artista especificamente para este trabalho em "Chewbacca" foi extremamente fortuita. A única forma de você entender Chewie e outros Wookies neste gibi é através de sua linguagem corporal. Isso seria uma cilada para qualquer desenhista com menos traquejo. Noto no entanto consegue transmitir raiva, compaixão, tristeza, alegria, dor e uma gama enorme de outros sentimentos como se fosse a coisa mais fácil da galáxia. Chewie está vivo aqui. O leitor sente isso na arte que tem um cuidado absurdo com interpretação. A caracterização do elenco, a fotografia e os cenários são lindíssimos, como na grande parte dos trabalhos de Noto, mas o que o artista realizou com interpretação de diálogos expressões deste elenco sobrepuja os outros quesitos de arte no gibi. "Chewbacca" tem visual limpo e etéreo com um "que" de conto de fadas espacial. A arte neste caso específico é essencial para a compreensão do roteiro e Phil Noto faz muito mais do que apresentar a história, o cara cria ambiência para um roteiro que não tem nada de especial à princípio.

"Chewbacca" é uma história muito muito simples sobre uma menina e seu amigo Wookie, ou talvez sobre um Wookie e sua nova amiga. Aqui vemos uma aventura nos moldes de conto de fadas espacial no qual testemunhamos o nascimento de uma grande amizade. Diálogos (em Wookie) certeiros, ritmo de leitura confortável e uma arte belíssima fazem desta mini série um improvável achado neste novo universo de Star Wars da Marvel. Um presente para os fãs da franquia e principalmente para a mitologia de um dos personagens mais queridos da nossa cultura pop. 

WRRRRAAAAAAAAAAAAAAAAAAUUUUUWWWWWNNNNN!!!!!