segunda-feira, 18 de abril de 2016

HQ do Dia | Wonder Woman: Earth One Vol. 1

O maior ícone feminino dos quadrinhos na visão de Grant Morrison.


Já se vão quase três anos desde o primeiro anúncio oficial de que o aclamado Grant Morrison estaria trabalhando com o ilustrador canadense Yanick Paquette na graphic novel da linha Terra Um da DC Comics chamada "Wonder Woman: Earth One Vol. 1". De lá para cá em inúmeras entrevistas divulgando o aguardado trabalho, ambos colaboradores ressaltaram em diversas ocasiões toda a árdua e extensiva pesquisa e o esmero com o qual alegam que imbuíram esta história. E este mês finalmente o público pode tirar suas conclusões sobre a interpretação destes artistas do maior ícone feminino dos quadrinhos. 

Somente relembrando, a linha Terra Um da DC Comics retrata um universo recente e com uma pegada teoricamente mais moderna no qual seus heróis estão ainda "engatinhando" no início de suas devidas cronologias. Isso é mostrado (para o bem ou para o mal) em outras graphic novels como Batman: Terra Um. Portanto na história de Morrison somos apresentados a Diana Prince em seu primeiro contato com o mundo fora da Ilha Paraíso (também chamada na revista por vezes como "Amazonia"). O roteiro de Morrison é conduzido através de um julgamento perante a Rainha Hypolita, mãe de Diana, no qual a princesa é julgada por ter escapado da ilha para ajudar o enfermo piloto Steve Trevor, que havia caído na costa de Themyscira e estava gravemente ferido. Utilizando o laço da verdade, as testemunhas e a acusada são convocadas a falar sobre os eventos que compõem grande parte da história. Em meio a isso o autor ainda aproveita o ensejo para revelar sua interpretação da origem da personagem.



Estruturalmente, o roteiro de Morrison para esta história é dos mais lineares e inteligíveis de sua bibliografia. Portanto para os leitores que geralmente tem problemas com o formato de apresentação de suas histórias, isso não é desculpa para não dar uma chance ao material. Quanto ao conteúdo, de fato fica claro o comprometimento do roteirista escocês com todo o trabalho de pesquisa em relação à história da personagem e do próprio feminismo. Então apesar desta ser a interpretação de Morrison sobre a Mulher Maravilha (e você tem todo o direito discordar filosoficamente dela), seria injusto desmerecer o trabalho de resgate de alguns temas mostrados nas encarnações primordiais da protagonista com pitadas de elementos da Era de Prata. O roteiro toca pontualmente (mas de forma bastante direta diga-se de passagem) temas como perda da inocência, isolacionismo, sexualidade, misticismo, objetificação, caridade e o papel de uma sociedade utópica em um panorama globalizado. 

No que contempla o feminismo em si, a interpretação de Morrison é controversa e singular: O autor intencionalmente colide a visão idealizada da mulher amazona "perfeita" com a mulher "real" do mundo externo. E no fundo, é possível perceber que o que o roteirista quer dizer é que apesar das diferenças de criação e visão de mundo, ninguém é mais mulher que ninguém. Diana tem muito a ensinar ao mundo, mas o mundo também tem algo a ensinar à princesa amazona. De qualquer maneira, em muitas cenas este choque entre as realidades pode soar deselegante, grosseiro e até ofensivo dependendo da interpretação do leitor para esta importante causa. A cena da troca das calças pelo collant é sintomática, uma clara alusão aos próprios fãs mais xiitas da personagem que criticaram muito a editora na última vez em que as calças foram usadas no uniforme.


Sobre a origem da heroína, para os feministas, fica o gosto amargo de uma associação indireta a um personagem masculino - nos dias de hoje, uma opção polêmica e ousada do autor que é justificada através de uma sombria e levemente mesquinha motivação da Rainha Hypolita. Muitas críticas negativas foram proferidas (por vezes mesmo antes de se ler o material) sobre o conteúdo teoricamente "bondage" associado à personagem aqui. A pessoa que se presta a LER as 130 páginas de "Wonder Woman: Earth One" e tem um mínimo de noção de estrutura narrativa percebe com facilidade que, apesar de sugerir a tal prática fetichista (assim como sugere a homossexualidade) como parte da cultura das amazonas, o roteiro não é exclusivamente sobre transformar um ícone feminino em uma figura submissa. Longe disso.

A arte de Yanick Paquette nesta graphic novel também foi objeto de críticas devido às inúmeras cenas divulgadas previamente (além da capa) mostrando a personagem atada em correntes. Novamente, voltando ao roteiro, o leitor percebe que em 70% do gibi Diana está sendo julgada como uma criminosa. Portanto as restrições físicas se fazem necessárias. Voltando ao que de fato importa, o trabalho de caracterização de Paquette é tão cuidadoso, controverso e ousado quanto o próprio roteiro de Grant Morrison. O design da ilha é deslumbrante, naturalista e moderno como poucas vezes visto nesta mitologia. As cenas tanto de diálogo quanto de ação são impactantes e grandiosas como exige um roteiro com protagonistas deste calibre. As personagens se diferenciam em grupos: Enquanto as amazonas são o que se espera de uma raça de mulheres superiores, as mulheres do mundo externo são mostradas de maneira sóbria e consistente como devem ser. A fotografia de Paquette é corajosa e não se furta de algumas cenas que podem sim ser consideradas sexualizadas por alguns leitores ou sensuais por outros. De qualquer maneira, são escolhas visuais ousadas, que não se comprometem com a toada politicamente correta vigente nos dias de hoje. Apesar de mostrar um trabalho lindo, meticuloso e extremamente consistente durante todo o curso da história, em algumas páginas no entanto, o uso do laço como elemento de diagramação é levemente caótico, mas tem uma simbologia forte que não poderia ser descartada de maneira alguma.


Logicamente por se tratar de um roteirista que desperta opiniões tão polarizadas quanto Grant Morrison, resenhas a respeito de um trabalho como esse geralmente são inócuas. Ou seja, o leitor comprará ou não o material dependendo da expectativa de cada um em relação ao trabalho do autor. O mérito de "Wonder Woman: Earth One" é não se comprometer. Grant Morrison tem uma nítida visão da personagem, que vai muito além da interpretação simplista e beligerante da "heroína guerreira fodona que bate em tudo quanto é macho" tão exaltada nos dias de hoje. Diana aqui é uma pessoa que não quer ser tratada como objeto por sua família. Diana aqui é uma pessoa que entende que, para crescer o mundo precisa de Themyscira tanto quanto Themyscira precisa do mundo. Diana aqui é uma pessoa mais preocupada em curar do que guerrear. No meio disso tudo, temos as "Morrisagens" e isto incluí a tal origem masculinizada, além das insinuações sexuais controversas. O que fica claro é que esta equipe criativa tem uma interpretação própria e valente da Mulher Maravilha que homenageia elementos significativos da história da personagem através de um roteiro de fácil entendimento e uma arte extremamente polida. Esta pode não ser a sua Mulher Maravilha, assim como o Superman da Terra Um pode não ser o seu Super. Entretanto os colaboradores envolvidos com o gibi fazem de tudo aqui para que esta não seja uma Mulher Maravilha qualquer e, para o bem ou para o mal, isto se chama comprometimento artístico.



 

 

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Avengers Standoff: Welcome to Pleasant Hill #1

Começa aqui a primeira saga dos Vingadores em 2016.



"Avengers Standoff" é a primeira saga reunindo todas as equipes e títulos principais dos Vingadores em 2016 na Marvel com a promessa do retorno do Soldado Invernal ao universo pós-Guerras Secretas além do aguardado retorno de Steve Rogers ao manto do Capitão América. Ao contrário do que lhe é costumeiro, pouquíssimas informações foram divulgadas pela editora sobre este evento arquitetado pelo autor do título atual do Capitão América (que já resenhamos aqui), Nick Spencer. Por isso esta edição que dá o pontapé inicial na saga acaba sendo extremamente importante para os fãs dos heróis mais poderosos da Terra.

"Welcome to Pleasant Hill" é um prelúdio de 38 páginas de "Avengers Standoff" com uma quantidade grande de informação e muito mistério. Aqui vemos logo de cara o retorno do Soldado Invernal e quem se lembra de sua última aparição na Marvel tem a confirmação que, felizmente, quase nada mudou no status do personagem após as Guerras Secretas. Somos introduzidos brevemente ao conceito do misterioso programa de segurança da S.H.I.E.L.D. chamado Kobik - um perigoso projeto com o intuito de utilizar o poder do Cubo Cósmico para fazer alterações pontuais na realidade. O vazamento de informações sobre o projeto é um dos temas do início da saga que abruptamente pula para a tal "Pleasant Hill". Em um clima desconfortável de mistério e ficção de confinamento, somos apresentados à estranha comunidade de, seus habitantes e sua prefeita, Maria Hill. Esta linha narrativa, que consiste em mais da metade do gibi, é contada através da visão do misterioso e desmemoriado personagem chamado "Jim".

Nick Spencer claramente tenta puxar algo de "Twin Peaks" nas passasgens em Pleasant Hill, logicamente com um clima bem mais leve. No entanto, a intenção do autor é boa, apesar de seu objetivo não ser muito claro. Este início de "Standoff" fica no meio termo entre mistério super heroico com clima de confinamento e uma história sobre conspiração. Muitas atitudes de Jim são previsíveis e o leitor vai reconhecendo aos poucos algumas figuras do Universo Marvel dentro de Pleasant Hill, o que é acaba sendo divertido, mas acaba quebrando um pouco o clima de confinamento da saga. O final no entanto acaba compensando pois temos o retorno de não só um, mas dois personagens clássicos da Marvel (em seu visual clássico) a este universo pós-Guerras Secretas. O que acaba sendo revigorante para leitores antigos dos gibis dos Vingadores e títulos associados.

A arte de Mark Bagley em "Pleasant Hill" é um retorno ao visual clássico dos gibis da década de 1990-2000 em uma saga Marvel. O estilo clássico e meio antiquado do ilustrador não é um desbunde, mas se encaixa direitinho na trama e é perfeito principalmente para as cenas iniciais com Bucky Barnes. Curiosamente, a ambientação da cidadezinha é desconfortavelmente clara, limpa, bem planejada e chega até a incomodar. Não dá para saber se essa caracterização do ambiente é intencional ou acidental, mas todo o clima em Pleasant Hill tem a artificialidade palpável que a premissa de Nick Spencer pede. Isso acaba convencendo o leitor logo de cara que tem algo muito errado com esta comunidade. A edição termina com um gancho visual que deixa lágrimas nos olhos de leitores mais antigos da Marvel. Sr. Bagley está de parabéns.

"Assault on Pleasant Hill" é um começo estranho e surpreendente. Por mérito da hermeticidade da campanha de divulgação da saga, provavelmente você não vai ter noção do que diabos está acontecendo na história até chegar em sua metade final. Isso em sagas da Marvel é uma melhora notável. Os protagonistas não são quem você imagina aqui, a arte é esquisita e clássica ao mesmo tempo e o ritmo narrativo torna a leitura meio que compulsiva da metade para o final da revista. Nick Spencer e Mark Bagley, intencionalmente ou não, fazem o que se deve fazer em um prelúdio de uma trama de mistério: Por bem ou por mal, você vai querer saber mais sobre Pleasant Hill ao final deste gibi.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

HQ do Dia | The Amazing Spider-Man 1-5

O Aranha é patrão, não funcionário nesta nova Marvel.

No final do ano passado testemunhamos o início de um novo e completamente diferente Universo Marvel (se você não sabe o que está se passando pelas publicações da Casa das ideias leia este artigo e este). O período chamado pós-Guerras Secretas deu origem a novos relançamentos em quadrinhos com propostas teoricamente diferentes para os principais ícones da editora.

Apesar da tal reformulação, o roteirista Dan Slott e o artista Giuseppe Camuncoli continuaram confortavelmente no assento do motorista na publicação protagonizada pelo super heroi mais popular da editora: o Homem Aranha. A resenha a seguir abrange o primeiro arco da novíssima "Amazing Spider-Man" contado nas edições 1 a 5 da revista que começou a ser publicada em Outubro do ano passado.

Aqui, apesar de seguir o fluxo de evolução de personagem estabelecido no final do volume anterior de ASM, Dan Slott nos apresenta de fato um Peter Parker um pouco diferente do que estamos acostumados a ver. O alter ego do amigão da vizinhança é agora um bem sucedido empresário no ramo da tecnologia sustentável e sua empresa, a Parker Industries, é uma nova força comercial dentro desta nova Marvel. Com isso logicamente não é possível para o protagonista ficar saltando de telhado em telhado em Nova York e combatendo o crime como em seus tempos áureos. Portanto, vemos Peter Parker fazendo algo inesperado em sua carreira como herói: Delegando tarefas. Ok. Isso não é nenhuma novidade em outros gibis, o molde do "herói empresário workaholic" já foi utilizado a exaustão neste gênero, mas de fato não neste personagem. Aqui vemos um Peter Parker bem mais maduro e objetivo do que em encanações anteriores. O objetivo das Indústrias Parker é totalmente altruísta, mas a ingenuidade de seu CEO ainda está lá e por vezes o faz cometer aqueles erros que estamos acostumados quando se trata de Peter. Ponto positivo para a abordagem de Slott que mostra um crescimento deste personagem, mas sem descaracterizá-lo de forma abrupta.

Neste arco vemos como o Homem-Aranha pode conviver com um Parker "patrão, não funcionário" e os males e benefícios desta nova fase na vida do protagonista são pontuados levemente mas de maneira eficaz pelo roteirista. Enquanto insere um festival de "gadgets" (que vão desde uma blindagem contra projéteis no uniforme e cartuchos de teia dos mais variados até o novo Aranhamóvel) nesta nova encarnação do Cabeça de Teia e antagonistas nada memoráveis (o tal do Zodíaco que é reconhecidamente pelos leitores uma das organizações criminosas mais "pé de chinelo" da editora), Slott apresenta uma trama de ação e espionagem industrial super heroica bem manjada, mas no geral divertida.

Há uma forte interação do personagem com a nova S.H.I.E.L.D. (tendo em vista que as Indústrias Parker são o novo fornecedor de tecnologia da agência) portanto em quase que todas edições temos a presença marcante da Hárpia, Nick Fury Jr. e todo o plantel de agentes da Superintendência como personagens de apoio. Além disso, vale ressaltar as interações muito divertidas entre Peter Parker e Hobie Brown (o ex-vilão Gatuno) que agora trabalha "cobrindo" a barra do Aranha quando ele não tem condições de atuar. Estas cenas são de longe as interações mais legais do Aranha com outro membro do elenco atualmente. O escopo do gibi do Teioso também está bastante diferente do que estamos acostumados. A atuação do herói agora é global e temos aqui uma trama internacional que nos leva da China para a África, dá um pulinho nos Estados Unidos e termina no Reino Unido. Este é outro ponto positivo a destacar, pois estas mudanças frequentes de ambientes tornam a vida do protagonista bem mais complicada e injetam o certo fator inesperado em algumas cenas de ação.

A arte de Giuseppe Camuncoli não mudou muito desde que o ilustrador começou a trabalahr nos roteiros de Dan Slott lá na fase "Superior". Portanto temos aqui no geral uma apresentação bem consistente do Aranha e todo o elenco. Vale destacar sempre o capricho do cara nas cenas de ação e neste novo volume o desafio é um pouco maior, tendo em vista o aumento considerável do elenco e as mudanças na forma de atuação do herói, além, é claro das constantes mudanças de ambientes de edição para edição na revista.

O início desta nova "Amazing Spider-Man" é fundamentalmente uma continuação do que Dan Slott cimentou no último volume do título do Cabeça de Teia. Portanto, para antigos leitores é somente um lapso temporal de oito meses na vida de Peter Parker e este elenco, com o acréscimo da S.H.IE.L.D. e o novo escopo das Indústrias Parker. Para novos leitores também não existe dificuldade em entender a situação do herói. Dan Slott faz um trabalho bem decente contextualizando tudo logo nas primeiras duas edições, no entanto fracassa em trazer um argumento um pouco mais cativante quando se trata de ameaças ao Homem-Aranha. Com uma arte que não escorrega em momento algum e diálogos com o padrão de qualidade "Slott" (seja lá o que isso signifique pra você), "Amazing Spider-Man" não é o melhor novo título da Nova Marvel e muito menos da linha do Aranha, mas também não é um desastre e pode sim ser apreciado pelos fãs do personagem.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

HQ do Dia | Spider Man #1

Bem vindo ao novíssimo 616, Miles Morales.

Que as Guerras Secretas modificaram bastante o panorama de publicações da Marvel você já está cansado de saber, né? Muitos personagens de Terras paralelas da editora agora fazem parte da continuidade atual e do universo "principal" da editora (teoricamente a Terra 616).

Talvez uma das mexidas mais acertadas desta "Nova e Diferente Marvel" após a saga tenha sido a adição do queridão Homem Aranha Ultimate, Miles Morales a esta nova Terra 616. E esta semana finalmente temos o retorno da consagrada equipe criativa formada por Brian Michael Bendis, Sara Pichelli e Justin Ponsor em um gibi estrelado por Morales simplesmente intitulado "Spider-Man".

"Spider-Man" #1 tem aquele cheiro gostoso de universo 1610 que o fã da Marvel aprendeu a amar
principalmente no título "Ultimate Comics Spider-Man". Então se você se divertia lendo aquela publicação, esta estreia é um presente. Bendis conhece melhor do que ninguém este elenco e sem esforço algum entrega um roteiro de estreia divertido, veloz e cativante. Desde a página inicial de apresentação até os diálogos e situações... Tudo é incrivelmente sucinto e sentimos quase que uma urgência em tornar este universo intrínseco à nova Marvel, mas o mais impressionante é que é tudo executado de forma orgânica e natural. Aqui não temos aquele velho mote: "Oh meu deus! Estou em um mundo estranho! Quem são essas pessoas? O que estou fazendo aqui?" Nada disso. Todo (excluindo logicamente a comunidade super heroica, por enquanto) o elenco associado diretamente a Miles Morales está inserido neste novo universo Marvel como se já fizessem parte desde seu início. Com isso a leitura ganha em dinamismo e podemos focar em narrativa e não em explanações. Um caso raro em estreias deste tipo.

Em 5 páginas você entende o elenco todo. Não há nada que exija muita exposição, então o autor pode se concentrar no que faz melhor: diálogos e ação. Sim. As vozes de Bendis para este elenco são tudo aquilo que você lembra em "Ultimate Comics". Apesar de Miles ser um personagem dos mais cativantes dos últimos tempos na Marvel, o destaque da estreia vai para a curtíssima cena de diálogo entre os seus pais. Nesta o roteirista dá um show de sensibilidade, mostrando a diferença de personalidade entre o pai e a mãe do jovem Aranha. Fica evidente que este não é um gibi de um herói e um elenco de coadjuvantes genéricos. Todos aqui são indivíduos. O antagonista mostrado nesta estreia é também uma grata surpresa. A interação deste com o Aranha é divertidíssima e dá oportunidade para a ilustradora Sara Pichelli mostrar porque é uma das melhores desenhistas de Homem Aranha em atividade na Marvel.

Sim! Sara Pichelli e Justin Ponsor estão de volta aos gibis do Aranha, Senhoras e Senhores. E que retorno! "Spider-Man" já abre seu primeiro quadro de forma matadora. Do jeito que o fã do personagem quer e merece ser tratado em termos gráficos. No decorrer da edição vemos a artista exercitando todos os seus "músculos" criativos nas demais cenas enquanto o colorista mostra o entrosamento fantástico que tem com a moça. "Spider-Man" não tem uma arte inovadora em termos de super heroi, mas não é isso que queremos. O que queremos ver é um Aranha adolescente negro saltando das páginas com seu visual "classicão" e de tirar o fôlego. E felizmente aqui temos isso.

Se você procura um gibi de super heroi adolescente no universo Marvel pode parar de procurar. "Spider-Man" atende todos os critérios do formato que popularizou as histórias do Homem Aranha desde a década de 1970, mas adaptado para o contexto da Marvel atualmente. Bendis, Pichelli e Ponsor entregam a melhor estreia de um gibi do Aranha em anos na editora e, francamente, isso leva a questionamentos sobre a relevância da publicação escrita por Dan Slott e estrelada por Peter Parker atualmente. Se cuida Peter! Miles chegou ao 616 e é o Aranha da massa.




quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

HQ do Dia | Guerras Secretas #9

O início do novo multiverso Marvel no final de Guerras Secretas

Ah, as incursões... Quando a contração do multiverso Marvel começou lá em Janeiro de 2013 na estreia de Jonathan Hickman em "New Avengers", nós leitores não tínhamos a menor ideia do quanto este fenômeno impactaria as nossas publicações e personagens favoritos.

3 anos depois as incursões resultaram neste Mundo de Batalha e finalmente nestas "Guerras Secretas". Na última parte da saga que tornou Victor Von Doom o deus e soberano do único universo Marvel existente na continuidade atual (as demais histórias publicadas atualmente se passam 8 meses no futuro da editora em um novo contexto, entenda), Hickman nos apresenta a principal falha de Destino e o motivo de sua derrota. 

O roteiro desta última parte revela finalmente os planos dos 3 principais atores nesta peça: Primeiramente vemos Reed Richards do Ultiverso mostrando sua verdadeira natureza ao se deparar com todo o poder do Homem-Molecular. Em seguida vemos qual a função de T'Challa e a maior arma do universo Marvel nesta trama e no futuro de Wakanda. E finalmente o que estávamos todos esperando: O confronto final entre Reed Richards e Victor Von Doom. 

Sobre este embate final entre as mentes mais poderosas da Marvel cabe aqui um parágrafo exaltando principalmente a maneira sucinta e precisa que Hickman apresenta seus antagonistas. São 6 páginas de embate entre os dois, com diálogos relativamente curtos e frases que sintetizam a essência de sua histórica relação. As falhas de ambos protagonistas na resolução do problema das incursões são mostradas sem excesso de exposição. No fim, Destino é derrotado pela sua própria falta de confiança e amor próprio e sua obsessão e admiração por Richards fica clara em suas próprias palavras antes do fim do Mundo de Batalha. O combate pode ser visto como anti-climático por não haver um triunfo absoluto de uma força sobre outra, mas ao expor o Homem Molecular ao conflito e deixar este se dar conta do que realmente está acontecendo, Richards já demonstra porque é um dos personagens mais brilhantes do universo Marvel. 

Mas não é só isso, "Guerras Secretas" #9 é de fato o início do novo Multiverso Marvel (Sim! Nós temos um Multiverso novamente). Hickman novamente nos presenteia com um retorno ao início de sua passagem por "New Avengers" e revisita Wakanda de maneira satisfatória para os fãs da mitologia do Pantera Negra. Pequenas pistas sobre o futuro da Marvel são deixadas aqui e ali, e o mais gratificante é ver a construção deste novo multiverso pelas mãos de um sonhador, um gênio e um louco. A belíssima cena da nova criação do Multiverso contém ecos de todo o trabalho deste autor desde sua época no Quarteto Fantástico e na Fundação Futuro. Um presente para quem vem acompanhando o trabalho de Hickman há anos e um recomeço extremamente empolgante para este núcleo de personagens.

A arte de Esad Ribic nesta última parte mantém a consistência e exuberância que o ilustrador vem mostrando desde que "Guerras Secretas" #1 foi publicada no ano passado. No entanto, com cenários um pouco menos elaborados (por conta do roteiro) e um elenco um pouco menor, o desenhista nos entrega uma apresentação lindíssima, mas sem aquele impacto visual incrível que vimos na oitava edição. Aqui Ribic serve o roteiro de Hickman da melhor maneira possível e mostra porque nem sempre o visual deve sufocar a história. Temos uma apresentação impecável em todas as páginas (com destaque para o quadro mosaico mostrando o embate de Reed e Victor), mas sem auto indulgência visual.

"Guerras Secretas" sofreu com descrença desde o início: A saga tem o mesmo nome de uma das histórias mais queridas dos fãs da editora. Além disso é costume na Marvel nos últimos anos entupir o mercado de "mega sagas que vão mudar seu universo". Estas sagas de fato tiveram impacto, mas isto se deu através de histórias fracas com uma narrativa no geral bem pobre. Portanto quando a premissa do Mundo de Batalha foi apresentada e em seguida os planos de uma reformulação da Marvel foram revelados grande parte dos leitores torceu o nariz. Bom, o que podemos dizer é que em termos de roteiro e apresentação gráfica "Guerras Secretas" é uma das peças mais bem construídas e executadas por Jonathan Hickman e Esad Ribic nesta editora. Em seu âmago, as incursões, o Mundo de Batalha e os pontos de vista entre Destino e Richards são um reflexo de como nós leitores encaramos nossos títulos e personagens favoritos: Nós, assim como Destino temos receio do desapego. Somos escravos daquilo que nos conforta e faremos de tudo para manter as coisas do jeito que queremos que elas sejam. A proposta de Richards é a aceitação da expansão e da falta de controle sobre aquilo que amamos. Afinal, quem ama algo tem de deixar a coisa livre para crescer e gerar frutos. Esta é a proposta do autor para esta nova Marvel. Logicamente que tudo que é publicado na editora não vai seguir os moldes estabelecidos aqui nesta edição final. A nova Marvel já começa totalmente desorganizada e Hickman tem muito pouco a ver com isso. A falta de continuidade já se instalou na editora desde Outubro e se você tem algum problema com isso é melhor nem tentar acompanhar. De qualquer forma, para o bem, para o mal ou para o pior, poucos autores poderiam criar uma maneira mais bonita e satisfatória de se iniciar um novíssimo Multiverso como Hickman e Ribic fizeram aqui. Sejam bem vindos a nova Marvel 

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

HQ do Dia | A Lenda da Mulher Maravilha #1

A lenda das origens da Mulher Maravilha revisitada.

Apesar do título da Mulher Maravilha ter sofrido uma notável queda de qualidade desde que o casal Meredith e David Finch assumiram na edição número 36 de "Wonder Woman", (Confira a resenha aqui) Diana Prince está em alta. 

Com o imenso hype gerado pela presença da personagem no próximo filme inspirado nos quadrinhos da DC Comics "Batman versus Superman: A origem da justiça", era natural que a editora explorasse de maneira mais acentuada esta franquia. 

Portanto em Outubro de 2015 a DC Comics começou a publicar digitalmente em periodicidade semanal a série em 9 partes (anunciada a princípio) chamada "A Lenda da Mulher Maravilha". O título digital conta com argumento e arte de Renae de Liz e é finalizado, colorizado e letrado por seu marido Ray Dillon. De lá para cá a publicação digital fez tanto sucesso entre a comunidade de leitores que teve sua vida útil estendida (o gibi em formato digital já está na edição número 11) e esta semana a DC Comics começa a publicar finalmente em papel estas histórias através deste número 1 que compila as 3 primeiras partes da saga de origem da Amazona.

Sim. "A Lenda da Mulher Maravilha" é mais uma origem alternativa da personagem. Neste caso
particularmente retornamos ao barro de Themyscira de onde a origem mais popular da personagem se deu em suas primeiras décadas de existência. Renae de Liz entende que a proposta da Mulher Maravilha sempre foi o empoderamento feminino, portanto aqui temos uma jovem Diana mortal tendo que superar dificuldades de sua mortalidade sem ajuda dos deuses (assim como todos nós). Só este retorno a uma premissa mais humana e básica da personagem já cativa o leitor logo de cara. Mas não é só isso. Renae inicia esta história indo lá atrás e repassando de maneira simples, mas exuberante toda a mitologia por trás da Ilha de Themyscira e a relação da Rainha Hypolita com os deuses do Olimpo. A maneira como o pano de fundo do gibi é apresentado é classuda, épica e com aquela cara de conto de fadas antigo que não vemos em qualquer revista (principalmente na DC Comics) atualmente. O texto de Renae cai no limite entre o rebuscado e o texto de explanação que estamos acostumados normalmente e tudo aqui tem cara de épico. Desde as falas das personagens, até o fluxo de cenas. 

Diana é mostrada com cerca de 10 anos de idade. Aqui vemos uma menina já muito sensível e atenta às necessidades da comunidade que a cerca. Além disso temos os já clássicos conflitos entre a moça e sua mãe. Diana anseia por ser uma guerreira e irá seguir este caminho independente do que seja designado para ela pela Rainha Hypolita.

A arte de De Liz e Dillon nesta publicação é uma verdadeira doçura. Ver Diana Prince e as futuras "amazoninhas" crianças estudando em Themyscira aquece o coração de qualquer fã. Ao mesmo tempo o casal não escorrega nas cenas de ação fantásticas e na representação grandiosa das criaturas mitológicas e deuses que fazem parte deste contexto. Renae desenha com perfeição praticamente qualquer coisa que coloca em seu roteiro e a revista ganha demais com isso. O visual do gibi é muito claro e colorido e tudo aqui tem cara de conto de fadas infantil meio Disney, desde caracterização até as expressões e figurinos. Uma apresentação em geral em quadros bem largos e com bastante espaço para a bela fotografia da ilustradora. Consistência absoluta nas 3 primeiras partes do arco e um visual que combina perfeitamente com o tom da narrativa. 

O leitor mais tradicional provavelmente vai chegar com pé atrás quando se deparar com "A Lenda da Mulher Maravilha". A história, fora do contexto atual da personagem na continuidade DC Comics, vem recontar algo que quem conhece Diana Prince já está cansado de saber. O principal trunfo de da história de Renae de Liz é trazer a vulnerabilidade da personagem de volta nesta origem e aproximar a Amazona de seu público alvo. "A Lenda da Mulher Maravilha" é o primeiro passo de uma linda releitura de uma história de empoderamento feminino, escrita de forma classuda e ilustrada de maneira impecável por este casal de artistas.


HQ do Dia | Invincible Iron Man 1-5

Analisamos o novo Homem de Ferro da Nova Marvel em "Invincible Iron Man"

Desde a já clássica (e premiada) passagem de Matt Fraction e Salvador Larroca em 2007, que fortuitamente coincidiu com a explosão do universo cinematográfico da Marvel no cinema, o Homem de Ferro se estabeleceu como um dos baluartes da editora na cultura pop. 

De lá pra cá a popularidade do gênio, bilionário, filantropo vingador só aumentou. Isso se refletiu principalmente na atual proeminência de Tony Stark no universo de quadrinhos da empresa, ams também nas vendas e escalação de equipes criativas de seu gibi solo.

Pulamos para a tal "Nova e Diferente Marvel" e logicamente a revista do Homem de Ferro é um dos garotos propagandas dessa nova fase da editora após a saga "Guerras Secretas" (Entenda o que está acontecendo atualmente na Marvel aqui). "Invincible Iron Man" #1 foi publicada na primeira semana de lançamentos da nova linha da editora em Outubro. Agora em Janeiro, o aclamado roteirista Brian Michael Bendis e o ilustrador David Marquez concluem o seu primeiro arco de cinco edições que apresentam o Homem de Ferro novamente para os fãs e novos leitores.

As cinco primeiras edições de "Invincible Iron Man" mostram Tony Stark no período pós-Guerras Secretas da maneira em que nos acostumamos a ver o personagem em inícios de arcos: Se reinventando. Portanto na primeira edição Bendis desenvolve rapidamente a premissa da nova armadura que teoricamente pode se adaptar a praticamente qualquer situação que o personagem se encontre, mas mantendo um design limpo e funcional. Bendis também reintroduz a inteligência artificial feminina, Friday e dá a Tony um novo interesse romântico na forma da Biofísica, Dra. Amara Perera.


O primeiro arco tem uma pegada quase que investigativa pois mostra o Homem de Ferro unindo forças a um antigo e perigoso inimigo que parece estar regenerado. Os dois se juntam em uma caçada para impedir a Madame Máscara de pôr as mãos em itens sobrenaturais remanescentes do período Pré-Guerras Secretas que podem desbalancear o fluxo sobrenatural da Marvel em mãos erradas. Aqui Bendis explora de maneira satisfatória o conturbado relacionamento entre Stark e Giuletta Nefaria, sem cair muito naquele esquema de ex-namorada vilanesca. O roteiro destas cinco partes em si não tem nada de revolucionário. Já vimos o Homem de Ferro em situações semelhantes e até mais contundentes. O final também não surpreende nem um pouco e todo o estardalhaço da mídia especializada em relação à participação de Mary Jane Watson na publicação vai por água abaixo devido à minúscula (mas providencial) participação da moça nas duas últimas edições da história. O destaque do roteiro de Bendis (como é recorrente) são seus diálogos afiadíssimos. O escritor, apesar de se mostrar extremamente limitado em premissa e desenvolvimento do arco escreve peças de diálogos como poucos na indústria de quadrinhos atualmente. Isso fica evidente desde a primeira conversa entre Tony e a Dra. Perera e se estende por todas as edições. As peças de conversação em "Invincible Iron Man" carregam o gibi nas costas e o leitor acaba sendo seduzido a ler um história que francamente não tem nada demais por conta do talento de Bendis em construir boas cenas de bate papo em praticamente todas as situações mostradas.

David Marquez é um talentosíssimo ilustrador. Isso fica evidente analisando o portfólio do sujeito desde seus tempos de Miles Morales em "Ultimate Spider-Man". Em "Invincible Iron Man" Marquez dentro de seu estilo super limpo e sem hachuras estreia de maneira muito convincente. No entanto, provavelmente devido a prazos (as edições 1 e 2 foram publicadas com pouco mais de 2 semanas de intervalo) o trabalho de Marquez apresenta alguns tropeços em quadros pontuais neste arco inicial. O leitor pode notar em algumas passagens em praticamente todas as edições a partir da número 2 uma falta de detalhes eventual em quadros e cenários. Isso em momento algum vai atrapalhar o fluxo de leitura ou qualquer peça do roteiro de Bendis. Entretanto o contraste entre algumas páginas lindíssimas e outras que parecem meio "corridas" na mesma edição deve ser ressaltado. No geral, Marquez nos apresenta um trabalho gráfico com ótimo nível que certamente foi impactado por demandas editorias da Marvel em fechar este arco com rapidez.

O arco inicial de "Invincible Iron Man" se vende por conta da impressionante habilidade de Brian Michael Bendis em escrever peças de diálogos contundentes e divertidas e também devido ao entendimento do autor de Tony Stark. O personagem está inserido em uma trama extremamente manjada nesta primeira história, no entanto o roteirista entende tão bem como funciona a mente deste personagem e consegue transpor isso tudo de maneira tão convincente que acaba nos chamando para entrar neste universo. Com uma apresentação que varia entre o excelente e o satisfatório na mesma edição, este início de "Invincible Iron Man" na Marvel deve atender os fãs do Latinha, mesmo que não nos mostre nenhuma novidade em termos de quadrinhos de super herói.